sexta-feira, fevereiro 04, 2005

ALAIN MINC E BERLUSCONI

Sempre que vejo este nome impresso - o de Berlusconi - a minha atenção redobra
Pelos vistos, o problema do nosso Governo é que não é Berlusconi - «é Berlusconi quem pode».
Ai pode, pode!
Pode e soube concentrar nas suas mãos um poder inconcebível num país verdadeiramente democrático.
Antes de entrar em política, as finanças e empresas do Sr. Berlusconi navegavam em péssimas águas; hoje, é um dos homens mais ricos do planeta.
Quanto ao poder, tem um Parlamento (Câmara de Deputados e Senado) inteiramente às suas ordens e dos seus advogados - estes são todos deputados ou senadores.
Sempre que seja necessário programar, apresentar e votar leis que tutelem os interesses de Berlusconi - financeiros ou judiciários - eis os centuriões berlusconianos a votarem compactos.
Os partidos da coligação governativa só entram em agitação quando estão em causa tachos e penachos. Fora disto, marcham disciplinadamente.
Além do Parlamento, há os meios de comunicação televisiva, assim como uma parte da imprensa, inteiramente dominados pelas hostes de «Sua Emitência» ( epíteto corrente). A subalternidade de certos jornalistas da RAI e a maneira como manipulam a informação é, decididamente, nauseante.
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Quando leio e analiso esta situação, a minha antipatia concentra-se, acima de tudo, nos aliados de Berlusconi.
O cidadão Berlusconi é pessoa simpática, cordial e dizem mesmo generosa. Como homem político, é totalmente amoral e impenetrável à decência.
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Na «Casa das Liberdades» - os partidos do governo - há de tudo: ex-democristãos, ex-socialistas, ex-comunistas, ex-fascistas, republicanos, leguistas, oportunistas. etc. Os ex-comunistas são patéticos: o chefe Berlusconi a atacar a oposição comunista e eles a aplaudirem com toda a unção. (Estou a lembrar-me do salazarismo: os contra eram todos comunistas).
No meio de todos estes ex, há muitas pessoas dignas de respeito e com um bom passado político. Por isso mesmo, prova-se uma maior indignação e repugnância quando os vemos votar as tais leis «ad personam» sem pestanejar; quando atacam grosseiramente a Magistratura, somente porque este é o leit motiv da política berlusconiana; a demolir a Constituição com leis que o Presidente Ciampi recusa assinar por anticonstitucionais, etc., etc. Mas onde é que aquela gente pôs o bom-senso e a dignidade?
AMMaia