segunda-feira, maio 09, 2005

O POLÍTICO ÚTIL AO PAÍS… ISTO É, O GRANDE HOMEM DE ESTADO

Este título vem a propósito de um artigo que li na revista italiano “L’ESPRESSO”. Escreveu-o Giampaolo Pansa que pergunta: “ Existe um De Gasperi que salve a Itália?”
Também ele – G. Pansa – apreciou o filme sobre De Gasperi e acerca do qual escrevi no precedente “post”.

Partindo dessa interrogação, construiu o “identikit” do político ideal, capaz de elevar-se às altas craveiras de um grande homem de estado.
Certamente que se referia a um italiano que represente a perfeita antítese de Berlusconi. Todavia, algumas virtudes que enumerou adaptam-se ao mundo político de qualquer país.

Respigo as menos directas ao primeiro-ministro italiano, resumindo-as. Vejamos.

1 - Deve ser um homem (ou mulher) em plena maturidade e que possa apresentar uma história e experiência bem claras - na política e em outros sectores. Conheça os defeitos dos seus compatriotas, mas não os considere irremediáveis. Obviamente, deve ser uma figura íntegra.
No que concerne os políticos que administram a casa lusitana – e é relativamente a esses que escrevo - estou a pensar se, efectivamente, têm procurado conhecer o cidadão português, o meio onde vive e o que espera do Estado. Conhecerão mesmo? Duvido. E duvido porque ainda ouço muita retórica à volta de programas anunciados sem ir ao cerne dos problemas diários – de norte a sul.

2 – Possuir a capacidade de saber usar a palavra com modo inteligente. Bastará que saiba explicar, uma vez por mês e com uma franqueza honesta, o que o seu governo faz. Que esteja preparado, duas vezes por ano, a enfrentar um debate televisivo com o presidente da oposição.
Não é má ideia. Bem sei que existe a Assembleia da República, mas é nos debates televisivos – e aqui, sim: fala-se para o País inteiro e não para iniciados – que o povo tomará conhecimento mais directo de como procede a governação.

3 – Deve ser austero na escolha dos colaboradores habituais. Queira-os super-inteligentes, ma de estilo sóbrio e absolutamente alheios à tentação de aparecer. Considere um pecado mortal o hábito de premiar parentescos políticos.
E aqui é que a porquinha torce o rabo! Estendo este conceito, não somente aos colaboradores, como a quaisquer cargos executivos.
Nas próximas autárquicas, por exemplo, temos a certeza que se escolheu a pessoa justa, inteligente, honesta e com a experiência devida? Não é só limitando os mandatos; acima de tudo privilegie-se a integridade na pessoa que será eleita.
Como Governadores Civis, o PS, nesta legislatura, escolheu sempre figuras de prestígio? Nos cargos de assessores e quejandos, não se andou a premiar compadres? Não se procedeu à distribuição de tachos a quem já usufrui de outras regalias, quando tantos licenciados lutam com falta de emprego? Muito mais haveria que dizer, mas fiquemo-nos por aqui.

4 - Cada dia que passe, terá obrigação de recordar-se que ganhou em nome de uma parte, mas deve governar por conta de todos, especialmente dos mais débeis. Governar no interesse exclusivo do país e não dos próprios dividendos políticos e, pior ainda, pessoais.
Sem comentários.

5 – Dizer sempre a verdade ao país, mesmo quando é uma verdade desagradável e indigesta. Se pensa que nos espera um período de “lágrimas e sangue”, não hesitar em anunciá-lo – “o médico piedoso mata o doente”.
Saber dizer não, muitos nãos e, quando necessário, usar de severidade a custo de ser impopular. Nunca agir, pensando em ser-se reeleito. Contentar-se em durar uma legislatura e fazer desses anos um tempo de bom governo. Depois, “quem viverá, verá.”
Também sem comentários.
Alda Maia