quinta-feira, outubro 27, 2005

“O DILEMA PORTUGUÊS”
( IL Dilemma Portoghese”)

Este é o título de um artigo de Francesco Giavazzi publicado, hoje, no “Corriere della Sera”.
Como é raro que se fale do nosso País nos jornais italianos, pelo menos naqueles que leio com mais frequência, à vista deste título, obviamente dei-lhe a máxima atenção.

Traduzo algumas partes, sobretudo aquelas que achei mais interessantes.

…“Tendo abandonado o escudo pelo euro, resolveram-se muitas dúvidas e, de um dia para o outro, os portugueses tiveram acesso a um crédito quase ilimitado. Usaram-no, não para investir e aumentar a produtividade, mas para dilatar o consumo, quer das famílias, quer, sobretudo, a despesa pública. Depois de alguns anos felizes e um pouco irresponsáveis, Portugal, hoje, encontra-se numa situação muito difícil - a mais difícil entre os países da união monetária. O aumento do consumismo, combinado com a escassa concorrência, principalmente nos serviços, manteve a inflação alta – quase o dobro da que se verifica no resto da Europa.”
“Em sete anos, os preços cresceram de 25%, os salários de 35%; o poder de compra dos trabalhadores cresceu 10%. Todavia, a produtividade não obteve nenhum progresso.”
(…) Entretanto, o custo do trabalho deve restituir os 10% que, até hoje, não é justificado
por aumentos de produtividade”
Uma redução dos salários poderia verificar-se somente em dois modos: esperando que o desemprego suba e meta em dificuldade os trabalhadores e sindicatos; ou, então, fazendo descer os preços de maneira que a redução das retribuições nominais não comporte um corte no poder de compra dos trabalhadores”.
“Se assim não suceder, o único caminho de saída será um longo período de desemprego”.

Depois de ter lido este artigo e pensando nas greves destes últimos dias, o único sentimento que provo é a desolação. Como é possível toda esta inconsciência, egoísmo e petulância? E digo petulância, precisamente porque se verifica em cidadãos com uma instrução média ou alta.
Os senhores magistrados até se deram ao incómodo de apresentar um protesto ao representante do secretário-geral da ONU: em Portugal atenta-se à independência da Magistratura!!!!... É incrível!
Não é só ridículo, mas penoso ter de testemunharmos uma queda tão desastrosa de estilo de uma das principais instituições do Estado!
Alda Maia