domingo, março 19, 2006

BEM PREGA FREI TOMÁS…

Na data em que factos importantes se devem concretizar, e sabemos, de antemão, que muito se escreverá, muito se comentará e que as críticas ou louvores nunca faltarão, é quando mais gosto de observar a “paisagem”.

È sempre interessante. E como em todas as coisas há a parte cómica ou, digamos, divertida, vale a pena ficar a olhar pelas janelas que se abrem.

Chegou o dia nove de Março e o Sr. Presidente da República tomou posse: cerimónias protocolares inevitáveis; pompa – que pode ser facultativa, porém, desta vez, incluiu-se no programa; compridas filas do beija-mão, dos sorrisos e homenagens ao neo-presidente - dado o espectáculo de quase entronização, esse item do programa não poderia faltar. Exceptue-se, obviamente, a apresentação dos cumprimentos das figuras representativas do nosso País e dos países amigos, pois são inerentes a eventos deste género e nada tem que ver com mesuras do “fazer-se ver”.

Também não faltou o quadro enternecedor de família: mãozinhas dadas do Presidente-mulher-neta, filho-nora, filha-genro na sua primeira caminhada, a pé, para o Palácio de Belém.

Para um país devorador de telenovelas, uma ideia muito feliz. Pode-se mesmo sustentar como adequadíssima ao sentir do português que, na telenovela do dia, é onde mais encontra motivos de animada troca de impressões. Há, todavia, uma palavra da língua alemã que também poderia retratar perfeitamente esse quadro: kitsch.

Relativamente ao discurso do Sr. Presidente, quantas apreciações positivas e negativas!
A última crítica vai para as nomeações do Conselho de Estado, visto estar em contraste com certas afirmações proferidas no discurso presidencial.

Estes abençoados analistas, comentadores ou editorialistas nunca querem recordar que discursos de ocasiões solenes, por norma, não passam de um lindo trecho da melhor retórica.
Sintacticamente bem construídos (quando o são), frases de efeito, as figuras de estilo apropriadas e tanto quanto baste, princípios reboantes, lugares-comuns às dúzias, voz bem ensaiada para melhor acentuar a “sinceridade” do orador.

Que dali nasça uma linha de acção coerente, oh! santa ingenuidade!... “Bem prega Frei Tomás; olha para o que ele diz e não olhes para o que ele faz”.
Na vida política, esta máxima é regra, por muito que o Sr. Presidente tenha apregoado que é apolítico (nisto, acho-lhe uma graça!).
Mas quem é publicista, deve ocupar-se da actualidade e fingir que é notícia o que bem reconhece como as habituais contradições do homem de estado.
Alda M. Maia