domingo, março 12, 2006

EPPUR SI MUOVE

No auge da “era Berlusconi”, já estava resignada a um género de passividade - frequentemente facciosidade - dos meios de informação italianos (salvo as devidas excepções)

Também estranhava a apatia do mundo intelectual. Apenas se apercebiam as críticas, porém, nenhuma tomada de posição, vigorosa e determinada, a lançar-se em campo para pôr fim a tal “era”. Pelo menos no que esta tem de escandaloso e anómalo.

Entrou-se no período eleitoral para as próximas eleições de nove e dez de Abril
As sondagens dão vantagem à oposição. A coligação do governo lançou mão de todos os recursos – alguns indecentes, como a mudança da lei eleitoral nos últimos meses - para travar a vantagem dos adversários.
Criaram uma tal salgalhada com esta mudança que o boletim de voto, a fim de conter todos os símbolos de partidos, partidinhos, grupos e grupelhos, terá a dimensão, mais ou menos, de 60cm x 20cm, se é que não chegará ao metro! Espero que ensinem uma correcta dobragem do boletim!... E contemos, desde já, com uma abnorme percentagem de votos nulos.

A contrariar a minha convicção sobre a passividade acima referida, no dia oito deste mês, saiu um editorial do director do Corriere della Sera intitulado: “A escolha do 9 Abril”. Este editorial é uma declaração aberta da intenção de voto.

Cito, do primeiro parágrafo: … “É este um bom motivo para que o director do Corriere della Sera explique aos leitores, em modo claro e sem rodeios, por que o nosso jornal auspicia um êxito favorável a uma das duas partes em competição: o centro-esquerda. Um auspício, seja dito de maneira igualmente clara, que não empenha o inteiro corpo de editorialistas e comentadores …

Paolo Mieli, o director do Corriere, explica, em seguida, todas as razões que o levaram a tomar esta posição.

***
Umberto Eco lança um apelo, sobretudo aos indecisos de esquerda:
“A ocorrência do 9 de Abril é diversa de todos os outros eventos eleitorais do passado: naqueles, tratava-se de decidir quem governaria e sem a suspeita que uma mudança poria em risco as instituições democráticas. Agora, trata-se, pelo contrário, de salvar as instituições

Cláudio Magris, professor universitário, escritor:
Parar um “processo involutivo e regressivo do país”. … “ Dois séculos de pensamento liberal contra a regressão da política ao exercício de um poder pessoal; as leis feitas à medida para os casos de uma só pessoa… “

Dois exemplos muito ilustrativos. Os meus pessimismos começam a esvair-se.
Alda M. Maia