sábado, março 04, 2006

POVERA ITALIA!” OU INTROMISSÕES DEPLORÁVEIS

Na Itália, sempre que se verificam acontecimentos menos correctos na vida pública, é frequente ouvir-se a exclamação: “Povera Italia”! Quando a ouço, quase sempre me provoca um sorriso; todavia, hoje, também a mim vem espontânea a mesma exclamação.

No próximo dia nove de Abril, haverá eleições legislativas. O País está a viver um clima de campanha eleitoral áspero, grosseiro. E digo grosseiro, sobretudo pelo modo como o primeiro-ministro ataca e insulta a oposição e a magistratura (praticamente, todos os magistrados são comunistas).
Refere-se aos opositores e aos magistrados com uma total falta de educação.
Os seus discursos, recheados de anedotas, mais parecem performances de artista de cabaret do que intervenções de homem político responsável e respeitador das instituições e do adversário.

Pois neste período eleitoral, o Sr. Primeiro-ministro foi em visita triunfal à América e ao seu amigo Bush.
Mr. Bush, com grande ausência de diplomacia e sem o mínimo respeito por um país soberano em período eleitoral, declarou que Sílvio Berlusconi levou estabilidade ao governo italiano.
“Aprecio muito a estabilidade que o nosso amigo deu ao seu país".
"Devo sempre fazer um esforço par conhecer os novos que chegam".
"A estabilidade deve ser salvaguardada”
"Com o meu amigo Sílvio mantenho uma relação estratégica. Sílvio é uma pessoa positiva e optimista. É um líder forte”
… etc., etc.

Bush não quer mudanças - muito trabalho mental para conhecer os novos governantes!...

Desequilibrou-se de tal maneira, nas apreciações ao fiel aliado, que no Conselho para a segurança nacional sentiram necessidade de esclarecer que as palavras de Bush “não deveriam ser tomadas como um aval político”; apenas palavras de amizade!...

Não será aval político (o que não creio), mas que foi uma gaffe indecente, disso não pode haver dúvidas.

***
Outra intromissão, não menos deplorável, partiu do Vaticano. Aliás, isso começa a ser useiro e vezeiro daquelas partes!

Jean-marie Le Mené, membro da Academia Pontifícia para a vida, expressou-se categoricamente: "Votar a favor de um candidato, cujas convicções não são respeitadoras do embrião, constitui uma cumplicidade no homicídio deste embrião, portanto, uma grave falta de caridade”.

O anátema foi lançado e eu já me considero “anatematizada”, visto que, por afinidades de pensamento, não tenho nenhuma dificuldade moral em votar esses candidatos.
Alda M. Maia