segunda-feira, março 05, 2007

PAIS ARRUACEIROS

Para a palavra inglesa bullying, em italiano existe bullismo e com o mesmo significado: atitude própria de pessoa, sobretudo jovem (bullo), violenta, arrogante, prepotente, etc. (fazem-na derivar do alemão).

Seria oportuno que também aportuguesássemos o termo, visto o largo uso que as circunstâncias actuais sugerem.
Se bem que, no nosso rico vocabulário, não faltam palavras que se apliquem com propriedade, por exemplo, ao comportamento dos paizinhos que decidem agredir os professores dos respectivos filhos.
Eu chamar-lhes-ia arruaceiros, brigões da pior espécie.

Os dois partidos da oposição, PSD e CDS, e os sindicatos dos professores apelam para que as agressões a professores sejam consideradas crime público. Entendo que têm toda a razão e o Parlamento deveria legislar em tal sentido, sem «mas» nem «ses».

Paralelamente, deveria aprovar-se, a nível nacional, uma taxativa proibição do uso e existência de telemóveis, dentro das salas de aulas.
Enquanto se ministra o ensino, não vejo qual a utilidade de tal apetrecho. Pelo contrário e como num post precedente denunciei: muitos desconchavos que se vêem na Internet são o fruto de filmagens feitas, com telemóveis, dentro dessas salas, o que é inconcebível e inaceitável.

Há um aspecto que acho profundamente negativo: a exautoração dos professores no ensino moderno, quer perante os pais, quer em relação aos alunos.
Não me canso de defender este princípio: exija-se proficiência e empenho na profissão que escolheram, mas salvaguarde-se a dignidade e respeito que lhes são devidos.
Deixe-se, entretanto, de endeusar os meninos, pois creio que se está a favorecer o crescimento de uma elevada e insuportável percentagem de malcriados, arrogantes e irresponsáveis.

Como para “mal comum, meio gáudio”, as situações que se verificam em Portugal são idênticas ao que se passa noutros países.

Quando levava para casa uma péssima nota, podia acontecer que o meu pai me desandasse uma bofetada. Era um pai à moda antiga: as bofetadas, hoje, são os pais modernos a dá-las aos professores. São eles os verdadeiros turbulentos.
(…) O código no qual se inspiram consta de um único artigo: o meu filho tem sempre razão. Se na escola vai mal, a culpa é dos professores. (…)
A tendência a considerar a prole um prolongamento do próprio ego já era bem acentuada no passado. O que a impedia de transformar-se em violência era o sacro respeito pelo lugar que cada um ocupava”.

Do jornal La Stampa (Turim), 04/03/2007, artigo de Massimo Gramellini: “Quei bulli di genitori” – Aqueles pais arruaceiros.

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(…) Não há qualquer professor, por muito capaz e sensível, que não deva enfrentar pais apreensivos e pretensiosos. Abolidos os tabefes há já uns tempos, ocorre medir bem as reprimendas excessivamente severas ou cáusticas, pois poderiam perturbar o equilíbrio dos preciosos rebentos.

Pretendem fazer passar a má educação e a insubordinação por expressão de uma natural vivacidade, digna mesmo de apreço, comparadas com o sossego das «mosquinhas-mortas»!

Quanto às notas e aos juízos de mérito, é necessário ser amplamente generosos, até mesmo para quem é um irrecuperável asno!
É quase um pedido precoce de absolvição e de indulto que acompanhará os alunos até ao ensino secundário e aos não preclaros estudos universitários, esperando que fique por ali”.

Do jornal La Stampa, 04/03/2007, artigo de Lorenzo Mondo: “Una precoce richiesta di indulto” – Um pedido antecipado de indulto

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Lá como cá, o alarme começa a fazer ouvir as sirenes.
Alda M. Maia

1 Comments:

At 10:57 da manhã, Blogger a d´almeida nunes said...

O que está em causa é, indubitavelmente, nem é preciso grandes cogitações, a falta de educação desses pais arruaceiros. Que, infelizmente, se estão a revelar cada vez mais arrogantes e arruaceiros à medida que vão sentindo que podem descarregar as suas frustrações como responsáveis primeiros pelas atitudes dos seus próprios filhos sem se preocuparem com as consequências (nulas e de nenhum efeito penal, em muitos casos) das suas manifestações desabridas contra os professores.
Será que se tem de repensar o sistema de ensino obrigatório? Não seria de equacionar a obrigatoriedade de os pais frequentarem com aproveitamento uns cursos de reciclagem sobre como colaborar activamente na educação dos seus filhos?
António

 

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