domingo, março 18, 2007

PARLAMENTARES: CASTA PRIVILEGIADA?

Nos últimos tempos, houve muitos argumentos sobre os quais gostaria de ter vindo para aqui conversar, como de costume, com o computador. Porém, uma pesada constipação, quase gripe, dispôs doutra maneira. Bom, aqui estou de novo, e como ia a dizer…

Alguns postes atrás, aludi a um programa televisivo italiano do canal «Itália 1» que se chama “Le Iene” (As Hienas). Assemelha-se ao nosso Gato Fedorento, mas com uma diferença: não se limitam à comicidade; apresentam reportagens, denunciadoras e bem preparadas, de situações negativas do país.
Alguns destes serviços têm provocado fortes abanões na imagem dos senhores parlamentares.

Há meses, desmascararam uma certa percentagem de deputados que faz uso de droga, embora respeitando-lhes o anonimato, e puseram em evidência a ignorância de muitos. Nestas duas últimas semanas, ocuparam-se do costume, desenvoltamente ilegal, como os representantes de povo pagam os próprios colaboradores.

Dos 683 assistentes acreditados na Câmara dos Deputados – os porta-bolsas, como normalmente lhes chamam - somente 54 têm um contrato regular de trabalho! Os demais, mal pagos, prestam serviço aos deputados quais trabalhadores fantasmas sem direitos ou a título gracioso.

Dentro das múltiplas ajudas de custo, cada deputado usufrui de 4.100 euros mensais para serviços de relação com os eleitores; obviamente, através de assistentes: dois por cada deputado. Os ordenados que a grande maioria destes colaboradores recebe, repito, sem qualquer contrato de trabalho, vão de 500 a 1000 euros. Ora aqui está um exemplar modus operandi de correcção e transparência!...

Os meios de informação – os jornais, sobretudo - deram grande relevo ao caso. Assim, novamente se deu a lume os opíparos emolumentos de deputados e senadores do Parlamento italiano.

Com o salário base mais ajudas de custo de todo o género, um parlamentar italiano, grosso modo, recebe à volta de 19.150 euros por mês. A chover no molhado, entram ainda os passes de viagens gratuitas em todos os meios de transporte, entradas nos teatros, cinemas, e por aí adiante: a lista de benesses é bastante longa.

Não faltaram as comparações: na Alemanha ganham 7.009,00 €; na França, senadores e deputados ganham 6.892,00 €; na Espanha, menos ainda: de 3.731,00 a 4.619,00 €, etc.
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Em Portugal, quanto ganham os nossos deputados? Quais as regalias a que têm direito?
Sobre a matéria, confesso a minha ignorância. Além disso, em nenhum sítio consegui obter uma resposta. Com certeza não soube procurar bem.

Sempre fui de opinião que os nossos representantes na Assembleia da República devam ser compensados com altos vencimentos, dignos do cargo para que foram eleitos, do trabalho que desenvolvem e compensatórios das despesas a que irão encontro.

No que concerne regalias, pelo contrário, nunca lhes encontrei a mínima justificação. Acho-as um puro e simples abuso de quem se crê uma espécie de casta privilegiada, somente por que se ocupa da coisa pública; como tal, não demonstra quaisquer pruridos de decência no hábito de atribuir-se vantagens e explorá-las até à medula.

Não concordo também com o número actual de deputados: 230. Penso que 140 / 160 seriam mais que suficientes. Muito bem pagos, insisto, mas pessoas de grande competência política, técnica e intelectual: poucos, mas a fina-flor do País e não os premiados por fidelidade ou com direitos de casta.
É uma utopia? Claro que é! Basta-nos observar e ouvir certas mediocridades, escolhidas pelos partidos, para que ilusões de tal género não sejam outra coisa que isso mesmo: utopias.

Não quereria acabar sem um pensamento para os nossos Gatinhos Fedorentos: por que não imitam os colegas «Le Iene», começam a escorraçar por este Portugal fora e, paralelamente ao habitual ronronar que faz rir, tiram as garras de fora e arranham o que não faz rir ninguém?
Seguir uma boa ideia não é um acto imitativo, mas sinal de inteligência.
Alda M. Maia

1 Comments:

At 10:51 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Pois é, caríssima Alda
Tenha-se em conta o aspecto importantíssimo das "castas", mais concretamente, pertencer num determinado momento, a um sub-grupo e não a outro, dentro do próprio partido e, logo aí, está a diferença. Mérito?! Competência? Vontade de lutar por ideias que visem a reformulação da constituição política e administrativa da Nação, com vista ao reforço do social e do solidário?!
Fui militante activo dum partido durante 20 anos! Nunca pedi para ocupar lugares políticos. Cheguei a pernoitar na sede do partido, preparado para o que desse e viesse. Já era casado e tinha esposa e dois filhos de tenra idade.
Talvez para "premiar" o meu empenhamento colocaram-me, numas célebres legislativas, em último lugar na lista de candidatos à Assembleia da República. Eu não tinha feito qualquer reivindicação nem me havia de valer muito, já que não fazia parte íntima de nenhuma facção dominante nas estruturas partidárias...
Sonhar com o Social e o Solidário...continuo a sonhar, mas pressinto que estamos na presença duma Utopia que jamais reverterá na direcção daquele sonho idealizado no calor dos 20 e tal anos, logo a seguir àquilo que julgávamos que seria uma revolução de ideias, conceitos e práticas.
...
Muitos parabéns pelo seu aniversário de ontem.
Mil beijinhos e muitas felicidades.
António e Zaida

 

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