segunda-feira, agosto 20, 2007

A ÉPOCA DAS REJEIÇÕES









È nesta altura do ano, isto é, quando abre o período de férias, que inicia a fase do desamor, da insensibilidade, da brutalidade e aridez humanas - e isto não é retórica.

Começa a rejeição daqueles animais – e são tantos! – que complicam e estorvam a partida de férias dos desalmados proprietários. A solução é já clássica: na auto-estrada, por exemplo, abre-se a porta do carro e, sem um mínimo de comiseração ou rebate de consciência, atira-se o animalzinho para o abandono ou para que seja atropelado, mortalmente, por outros automobilistas.

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Mas não se abandona somente os animais.

Segunda-feira, dia 13, em Nichelino (uma pequena cidade da periferia de Turim) num centro comercial, sentado num carrinho das compras, uma criança chorava desesperadamente – o menino da foto, ao colo de uma enfermeira.
Os funcionários, pensando que o choro fosse motivado pela ausência dos pais, através dos altifalantes, solicitaram para que estes acorressem a tranquilizar o filho.
Repetiram o apelo insistente e demoradamente, mas ninguém apareceu – quer nesse dia, quer nos dias seguintes!
Chamaram a polícia, como é óbvio, e levaram-no para o hospital mais próximo.

Fizeram-lhe todos os exames médicos necessários e verificaram que goza de excelente saúde.

Tem cerca de 18 meses de idade e pensam que seja originário do Leste europeu. As autoridades solicitaram a publicação de fotografias da criança, a fim de obter o maior número de sinalizações.

No primeiro dia, para acalmar a agitação do pequenino e conseguir alguma informação útil, tentaram interrogá-lo em romeno e outras línguas de Leste, mas o menino opõe o silêncio; apenas pronuncia, de vez em quando, alguns monossílabos incompreensíveis.
O carinho e cuidados dos funcionários do hospital e da polícia – esta pôs-lhe o nome de Jorge – foi inexcedível, como não podia deixar de ser. Assim, no segundo dia, já brincava com os vários brinquedos que lhe deram, comia com apetite e demonstrava uma docilidade e afabilidade encantadoras: conquistou o coração de todos.

Que se abandone um recém-nascido, para quem o tempo de desencadear afectos não existiu, é caso frequente, desgraçadamente.
Ora, abandonar uma criança de quase dois anos, que se apresentava bem tratada e vestida com um certo cuidado; que usufruiu já de um período de tempo que gera amor e ternura, a pergunta é óbvia: qual causa horrível – seja de carácter malvado, seja estribada em circunstâncias de desespero – pode levar um genitor a abandonar a sua criatura?!!

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TENTÁCULO: UMA NOVA ESPÉCIE DE PEIXE

Para sair da tristeza do tema anterior, falemos de polvo.

Sábado, vi grossos tentáculos de polvo congelados e que nunca tinha visto antes. Comprei dois ou três. Passando pela loja onde, às vezes, compro fruta, acenei a esses tentáculos. Porém, usei a expressão – imprópria – “pernas de polvo”.
Não, isso não é polvo – diz-me a proprietária da loja.
A mim parece que sim – respondo eu.
Olhe que não, D. Alda. Tem outro nome, mas agora não me lembro. Isso é parecido com o polvo, mas trata-se de outro peixe – insiste a mesma Senhora.
Ah! Já sei! - continua ela – Chama-se tentáculo.

Esforcei-me por não me rir e expliquei-lhe, suavemente, que tentáculos são os membros do polvo.
Não é anedota. Foi verdadeiro.

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Outro episódio que me divertiu, mas desta vez ri-me abertamente e com gosto.

Ontem, domingo – neste momento já passa da meia-noite - fui ao supermercado Jumbo.
Excepcionalmente, lembrei-me comprar um gelado. Aproximou-se uma jovem simpática, informando-me da oferta de três peças de cozinha, se eu comprasse duas confecções de um gelado em promoção. Expliquei-lhe que seriam gelados de mais. Todavia, a curiosidade levou-me a perguntar-lhe quais eram essas peças de cozinha oferecidas com os gelados.
Resposta: um batedor, uma colher e um salazar.
Um Salazar!? Que é isso? – pergunto.
Um salazar é aquele raspador que usamos para rapar as panelas.

Quem seria o autor?
Alda M. Maia