terça-feira, abril 22, 2008

ANIVERSÁRIO DE RITA LEVI-MONTALCINI


Rita Levi-Montalcini, Turim, 22 de Abril, 1909
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É uma neurologista laureada com o prémio Nobel da Medicina, em 1986.
Nasceu em Turim em 22 de Abril, 1909. Assim, hoje completa noventa e nove anos.
Festejá-los-á no instituto que fundou e que estuda os segredos do cérebro”

Em 2001, Carlo Azeglio Ciampi, na altura Presidente da República, nomeou-a senadora vitalícia “por méritos científicos e sociais”.

È inútil continuar a descrever quem é Rita Levi-Montalcini, pois é muito fácil encontrar informações sobre esta grande Senhora.

Quando escrevo “grande Senhora”, não me refiro somente à sua condição de grande cientista, mas ao modo como tem dado sentido a uma vida riquíssima de generosidade.

O jornal "La Rapubblica" de domingo passado, dia 20 de Abril, dedicou-lhe uma reportagem de três páginas com o título: "Os Meus magníficos 99 Anos".

Achei muito interessante a entrevista que concedeu ao jornal (a Dario Cresto-Dina) e transcrevo algumas passagens.
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Invejo quem tem fé. Eu não creio em Deus. Não posso crer num deus que nos premeia ou nos castiga; um deus que quer ter-nos nas suas mãos.
Cada um de nós pode tornar-se num santo ou num bandido, mas isso depende dos nossos primeiros três anos de vida, não de Deus. É uma lei de uma ciência chamada epigenética; por outras palavras: pode-se definir o diálogo que se instala entre os nossos genes e o ambiente familiar e social no qual crescemos. (...)
Pois bem, eu, aos três anos - aos três anos, juro-lhe - decidi que nunca me casaria nem nunca teria filhos. Fiquei condicionada pela relação vitoriana que subordinava a minha mãe ao meu pai. Naqueles tempos, nascer mulher significava ter estampada na pele uma marca de inferioridade.
Além do mais, tenho visto um excessivo número de matrimónios infelizes.
(…) Renunciei a constituir uma família, não ao amor. Isto não.
Tive afectos, enamorei-me, fui feliz.

Do passado não se levantam fantasmas. Sem Mussolini e Hitler, hoje seria somente uma velha senhora a um passo do centenário. Pelo contrário, graças àqueles dois, cheguei a Estocolmo. Nunca me senti uma perseguida. Tenho vivido a minha existência de judia em modo laico: sem orgulho nem humildade.
Não frequento a sinagoga nem a igreja. Não uso como uma medalha o dado histórico de pertencer a um género humano que sofreu muito nem jamais procurei vantagens ou ressarcimentos morais.
Ser judeu pode não ser agradável, não é cómodo, mas criou em nós um impulso intelectual suplementar.
Como se pode afirmar que Albert Einstein era de raça inferior?
Deveremos também abolir, nas nossas cabeças, o conceito de raça. Existem os racistas, não as raças. E a mim interessam unicamente as pessoas.

No dia um de Agosto, 2001, O presidente Carlo Azeglio Ciampi telefonou e disse-me: Sou Ciampi e abraço-a. Nomeio-a senadora vitalícia por méritos científicos e sociais. Apenas consegui dizer: obrigada. Senti uma grande emoção.
Sou absolutamente ignorante em questões de política. A minha ligação com a mesma é um puro dever cívico e moral. Certamente que sempre fui uma mulher de esquerda. No Parlamento encontrei pessoas de grande inteligência, quer nos partidos de governo, quer na oposição.


Muito elegantemente, omitiu as grosserias dos ordinários que abundavam na oposição (deram disso prova quando caiu o governo) e que a ultrajaram sempre que votava a favor do governo - para estes indivíduos, os senadores vitalícios não tinham direito de voto... se votavam a favor de Prodi.
No grupinho dos cretinos, sobressaiam os fascistas.
Quando escrevo fascistas, não uso uma palavra vazia de sentido, usada a torto e a direito por quem se coloca na esquerda radical e pensa que tem sempre razão. Refiro-me à extrema-direita, aos fascistas DOC, aos reais fascistas italianos.
Mas sobre isto falarei num próximo post.

(…) A coisa que mais desejo é a paz no Médio Oriente. Interrogo-me frequentemente sobre o conflito entre árabes e israelitas. Não posso aceitar a ideia de quem deseja a supressão do Estado de Israel; ao mesmo tempo, não aceito que os palestinianos tenham poucas possibilidades de exprimir, livremente, a própria inteligência. Penso que ainda seja possível atingir o objectivo de uma convivência pacífica entre os dois povos. Somos todos iguais.

A minha inteligência é medíocre, o meu empenho é pouco mais que medíocre. Creio ter duas únicas qualidades: a intuição e a capacidade de ver um problema na sua globalidade.

O meu cérebro funciona melhor do que quando tinha vinte anos. Decidi usá-lo ainda mais, precisamente na última etapa do meu percurso. Penso em continuação: ajuda-me a paixão pelo meu trabalho.
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Alda M. Maia
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Nota: este texto foi ligeiramente corrigido

2 Comments:

At 1:21 da tarde, Blogger osátiro said...

Excelente comemoração de uma grande Senhora!
Parabéns.

 
At 6:56 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Grata pelos seus parabéns.
Admiro muitíssimo esta Senhora.
Alda

 

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