domingo, outubro 05, 2008

INTOLERÂNCIA E RACISMO

É-me impossível não fazer comparações com o que se passa em Portugal e o que sucede na Itália.

Visto que agressões violentas de puro racismo se sucedem em várias regiões italianas, não somente provocadas por civis, como por agentes da ordem, vejo as preocupações e sugestões de Paulo Portas, contra imigrantes, como uma atitude decididamente antipática.
Considero-as muito semelhantes às doutrinas que, na Itália, induzem tantos energúmenos a pôr em prática actos de selvagem brutalidade: não somente através da violência física, como também de uma não menos odiosa violência oral.

Em Portugal, é inegável que se verificou um aumento da criminalidade, mas não é justo que se deva atribuir aos imigrantes o maior peso da delinquência existente.

O CDS não será xenófobo, mas intolerante, o que, na minha opinião, é pior: é na intolerância que se aninham as discriminações indignas de um país civilizado e democrático.

No centro-direita italiano, foi desse modo brando que a onda xenófoba, racista e anti-imigrante nasceu e foi crescendo: a Liga Norte é o porta-bandeira, como todos sabem.
Assim, de há um tempo a esta parte, quase diariamente, desencadeou-se uma violência incontrolada, sobretudo contra africanos.
A sineta de alarme racismo começou a tocar freneticamente. Se não houver intervenção político, a magistratura ainda é independente, graças a Deus!

No que concerne a aceitação de imigrantes em Portugal (ou a concessão da nacionalidade, presumo), achei divertida - para não dizer estúpida - a proposta do Sr. Portas: “um contrato em que o candidato se compromete a cumprir integralmente a lei portuguesa”.
É melhor ser sincera e dizer que essa proposta me parece mais estúpida que divertida.

Se um imigrante deseja estabelecer-se em Portugal, é óbvio que deve, é obrigado a respeitar as leis válidas para qualquer cidadão que vive neste País. As leis são iguais para todos – nem sempre… - e todos as devem respeitar. Elementar, Mr. Portas!

Se, pelo contrário, entram no território português com a única intenção de traficar droga ou exercer actos de banditismo, certamente devem ser encarcerados, julgados e, cumprida a pena, expulsos.
Esses não são imigrantes, mas delinquentes que vagueiam pelos países europeus e onde o acesso às fronteiras se torna fácil.

Quanto ao respeito por culturas diferentes, ninguém as contraria, desde que não entrem em choque com as nossas leis ou com os direitos humanos.
Tudo isto é uma obviedade que está ao alcance da inteligência do comum cidadão e que a Lei da Imigração já muito bem equilibrou.

Seja-me permitida uma pergunta maliciosa: Paulo Portas não teria participado em qualquer seminário organizado pela Liga Norte?

Para terminar, quero transcrever alguns excertos do discurso pronunciado em Veneza pelo vice-presidente da Câmara da cidade de Treviso, Giancarlo Gentillini, leguista dos quatro costados.

(…) Quero a revolução contra os clandestinos. Quero a revolução contra os acampamentos dos nómadas, ciganos. Já destruí dois em Treviso e agora não há nenhum. Quero eliminar as crianças que roubam aos velhinhos.

(…) Quero a revolução contra aqueles que querem abrir mesquitas e centros islâmicos. Aqui, àqueles que dizem, inclusive as hierarquias eclesiásticas, “deixemo-los orar”, eu digo não. Que vão rezar nos desertos. Abrirei uma fábrica de tapetes para oferecer-lhos, mas que vão rezar lá para o deserto. Bastaaaa!!! Escrevi ao Papa: os islâmicos que voltem para os seus países.

Quero a revolução contra a magistratura. Para aplicar as leis devem ser os juízes vénetos.

Quero a revolução contra os phone center, cujos clientes põem-se a comer a altas horas da noite e depois vão urinar contra as paredes: que vão urinar nas mesquitas deeeeles!!!!
Quero a revolução contra os véus e ou burca das mulheres. Quero ver-lhes a cara, pois que, escondido pelos véus, pode estar um terrorista com uma metralhadora entre as pernas. Quando muito, que mostrem o umbigo!...

Quero a revolução contra quem pensa conceder o voto a extracomunitários. Não quero ver negros, castanhos ou cinzentos que ensinem as nossas crianças. Que lhes podem ensinar? A civilização do deserto? O voto é só nosso
.

Todo o discurso, no tom e conteúdo, é semelhante ao que transcrevi.

Giancarlo Gentillini foi constituído arguido pela grosseria e violência das baboseiras, em forma de discurso, gritadas em Veneza: “crime de instigação ao ódio racial”.

Grandes aplausos, e bem merecidos, à Magistratura de Veneza

Também grandes aplausos aos nossos Tribunais pelas condenações aos nazi-fascistas que empestam a Terra Lusa.
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Odeio extremismos, quer nas ideias, quer nos actos daí derivados. De esquerda ou direita, são uma praga quase inextirpável, desgraçadamente.
Alda M. Maia

3 Comments:

At 11:05 da manhã, Blogger a d´almeida nunes said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 11:09 da manhã, Blogger a d´almeida nunes said...

E mais, Alda.
Anda para aí um Partido (aquele que colocou um outdoor em Lisboa, não no Marquês porque finalmente a Câmara Municipal proibe tal prática mas noutro local estratégico) a usar em grandes parangonas slogans de exaltação nacionalista, contra todos aqueles que não são descendentes directos de D. Afonso Henriques. Só assim é que se poderia provar a nacionalidade portuguesa, na sua óptica?
Acaso esses senhores já fizeram o levantamento da sua árvore genealógica? Dada a forma como o nosso país nasceu e se alargou até às fronteiras actuais, como é possível pensar tão dogmaticamente? E somos um país piqueno, que, por este caminho, nem sequer uma alma grande teremos.
Um beijo amigo desde Leiria, de Portugal daqueles que vivem integrados nas leis que regem o país e se esforçam por actuar em prol do bem público em geral.
António

 
At 5:29 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Só hoje vim aqui ao blog e tive a grata surpresa de ver e ler o seu comentário.
Não acha que indivíduos desses sofrem de uma autêntica tara? Se assim não fosse, saberiam equilibrar ideias e ideais e deixar-se de cretinices que, francamente, dão volta ao estômago, tão repugnantes se nos apresentam.
Um grande abraço e um beijinho à Zaida.
Alda

 

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