domingo, novembro 22, 2009

A SENHORA PESC

Fiquei surpreendida com a intensidade da ressonância que teve a nomeação dos dois novos dirigentes europeus: o Presidente do Conselho Europeu e o Alto Representante para a Política Externa.
Estas nomeações eram esperadas com curiosidade e interesse, mas provocaram uma onda de críticas que sobrelevaram, e de muito, o tom rotineiro que, normalmente, acompanha os assuntos relativos ao funcionamento da União Europeia.

Todos os jornais deram o relevo que o caso merecia, salientando os pontos negativos; ficamos bem informados.
Todas as opiniões vergastaram a baixa política dos representantes dos Estados-membros; muito pertinentes.
Todos ficamos a conhecer o que nunca foi matéria desconhecida: os peixes graúdos impõem os seus interesses; os menos graúdos contratam as conveniências; os peixes pequenos arrebanham o que é possível.

O recém-nomeado Presidente do Conselho Europeu, o primeiro-ministro belga Herman Van Rompuy, é elogiado pela sua “capacidade de mediação e compromisso”. Todavia, surge como uma figura sem prestígio internacional.
Fica-se com a ideia, portanto, que exercerá o cargo de mordomo do trio Merkel, Sarkozy e Gordon Brown.

E se, pelo contrário, se revelará um presidente determinado, hábil e bom condutor da União?
Como gostaria que driblasse, fintasse e marcasse todos os pontos necessários para uma excelente marcha do comboio europeu, baldando as espertezas e expectativas de quem o designou, mas com outros fins!

Voltemos ao princípio. Surpreende-me, insisto, o clamor dos grandes meios de informação sobre estas escolhas.
Que esperavam? Bom senso e agudez de espírito dos países de maior peso na União? Dedicação a uma Europa forte, reservando-lhe os melhores cérebros políticos e pessoas de indiscutível competência?
Jamais serão desejáveis ou bem-vindos, num espaço onde a politiquice de bastidores assentou arraiais, e de há longo tempo.

Em toda esta questão, não são as nomeações que mais atraíram a minha curiosidade, dado que os joguinhos de interesses são parte imprescindível do programa.
É a posição da Inglaterra que me deixa perplexa. Certamente que não é concebível uma União Europeia sem o Reino Unido, mas ninguém ignora o escasso europeísmo dos ingleses.

Vêem a União apenas como uma grande área de mercado. Quanto ao resto, naquilo que se pressupõe uma união complexa, preferem manter-se a meia pensão, pois há uma metade cuja ementa é intragável para o superior palato dos súbditos de Sua Majestade: a moeda única e a livre circulação, por exemplo.

Não obstante tudo isto, a Grã-Bretanha sempre pretende lugares de prestígio e importância, dentro dos mecanismos da União Europeia e os demais países devem secundar, e têm secundado, essas pretensões.

Digo já claramente que preferiria Máximo D’Alema como “Alto Representante para a Política Externa” (o que anteriormente se chamava PESC - Política Externa e de Segurança Comum).
Deu óptimas provas como Ministro dos Negócios Estrangeiros italiano, é um consumado político, é inteligente, é enérgico: requisitos bem atinentes àquele cargo.

O senão que lhe apontam, qual ex-comunista, não somente é estúpido como preconceituoso. Nunca votei o então PCI, mas também nunca tive dificuldade em individuar, nesse partido, homens de grande moralidade e envergadura política. A comprová-lo, está o actual Presidente da República, Giorgio Napolitano.

Interpuseram-se alguns países de Leste, pretextando que é um ex-comunista – por quem Deus nos manda avisar!

Como não foi aceite a candidatura de Tony Blair à presidência, Gordon Brown impôs Catherine Ashton para Alto Representante.

Embora o Governo italiano tivesse apoiado Máximo D’Alema, bem sabemos a pouca consideração que este Governo merece entre os seus pares. Além disso, houve ministros que se opuseram à candidatura, esquecendo que daria prestígio à Itália – os sólitos tarimbeiros da política.

O Partido Socialista Europeu, que antes o havia proposto, entendeu mais oportuno entrar nos interesses de Berlim, Paris, Londres, Madrid e os oito chefes de governos socialistas, unanimemente, apoiaram a Senhora Baronesa de Upholland.

Um papel de figura dúbia representou-o o eurodeputado alemão Martin Schulz. Na escolha do Alto Representante, o presidente do PSE interpretou esse papel com muito pouca correcção. Virar a casaca, alegando que Máximo D’Alema não tinha o apoio de um governo socialista, não me parece uma justificação plausível.

Percorrendo com acuidade grande parte das informações, não pude evitar um sentimento de profundo desdém por tantas atitudes mesquinhas, míopes e que, inevitavelmente, redundarão em desfavor da credibilidade, não só da nossa Europa, mas também de quem a governa.

O que se viu, bem claramente, foi a batalha descarada por meros interesses nacionais.
Mas, repito a ideia acima expressa: de que nos podemos surpreender?

Abriu-se o mercado dos pelouros na Comissão Europeia. Já se conhece para quem vão os mais lucrosos e apetecíveis.
Quanto ao açambarcamento de cargos relativos a altos funcionários, Sarkozy e Merkel souberam marcar posições.
Pior que um suq em Marrocos.
Alda M. Maia

2 Comments:

At 12:53 da tarde, Blogger Manuela Araújo said...

Olá D. Alda
Lá no Sustentabilidade É Acção estão dois selos-prémio e um desafio para o Pensamentos Vagabundos. Não avisei quase ninguém, por falta de tempo, mas aqui está uma excepção.
Um beijinho grande.

 
At 12:03 da manhã, Blogger Alda M. Maia said...

Só hoje vi esta sua informação. Renovo as minhas desculpas pelo atraso dos meus agradecimentos.
Um abraço grande
Alda

 

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