segunda-feira, novembro 01, 2010

NOVO ESCÂNDALO; NEOLOGISMO QUE DELEITA OS HUMORISTAS

E este escândalo, consensualmente baptizado, passará à história como o escândalo do bunga-bunga.

Desta vez, confesso que não consigo escandalizar-me nem deplorar a baixeza moral a que pode chegar um homem que ocupa o poder de Estado. Mas nada de anormal. Desde sempre, este indivíduo, além de comprovado mentiroso, jamais soube o que é dignidade, comedimento e respeito pelo País que representa.
Precisamente! Refiro-me ao inefável Berlusconi e às mulheres, de preferência novinhas ou de menor idade, que lhe alegram as seroadas brejeiras.

Desta vez, divirto-me com a torrente de informações que os jornais italianos têm vindo a publicar sobre o caso de uma dessas protegidas do grande chefe, caso a que a imprensa de meio mundo não omitiu de dar a devida relevância e cujos títulos ressumbram de ironia e sarcasmo. E sempre o bunga-bunga como leitmotiv!

Ruby é o nome “de arte” de Karima El Mahroug. Trata-se de uma rapariga graciosa, atrevida, filha de imigrantes marroquinos em Messina e de excessiva desenvoltura para os seus dezassete anos. Completará dezoito agora em Novembro - completou-os hoje, 1 de Novembro.
Irrequieta e indomável, aos 14 saiu de casa. Dois anos depois deve entrar numa instituição de acolhimento. Foge e faz-se notar em discotecas, locais só para homens, dança do ventre, "lap dance", concursos de beleza e outras empresas de
adolescente sem freios.
Entra e sai de várias comunidades por ordem do tribunal de menores, ou de casas-família donde, pontualmente, evade.

Viaja rumo a Milão e torna-se-lhe fácil entrar em contacto com as pessoas “justas” para as suas pretensões desinibidas - as fotos que circulam no Web e na imprensa são bem claras a este respeito.
Atingiu o momento de apoteose dessas ambições: convidada (ou recrutada?) para as alegres noitadas na casa do incorrigível Berlusconi e premiada com jóias e milhares de euros. Vangloriou-se mesmo da oferta de um automóvel.

Além de desinibida e dotada de um elóquio fluente, Ruby não só demonstra uma grande habilidade em misturar gabarolices com verdades, como também revela propensão para se apropriar do alheio.
Denunciada pelo furto de 3 mil euros a uma amiga, á 19 horas de 27 de Maio passado foi conduzida à Questura (polícia) de Milão. Deram avio às averiguações rotineiras: uma menor, sem documentos, deve-se proceder á identificação e procurar-lhe o internamento em instituições apropriadas, pois estas são as normas legais.
E aqui inicia o “escândalo bunga-bunga”. Mas que será este bunga-bunga!...

Às 23 horas desse dia 27 de Maio, ao comando chegou um telefonema da sede do Governo, pedindo notícias da jovem detida.
Ao telefone, intervém pessoalmente Berlusconi (avisado por quem?) que solicita ao chefe de gabinete a libertação da rapariga e o abandono de todas as investigações protocolares – um grave e indecente abuso de poder.

Desejo confirmar que conhecemos esta rapariga, mas sobretudo explicar-lhe que nos foi assinalada como parente do presidente egípcio Mubarak e, portanto, seria oportuno evitar que seja transferida para uma estrutura de acolhimento. Penso que será melhor confiá-la a uma pessoa de confiança. Por este motivo, também o informo que em breve chegará aí a conselheira regional Nicole Minetti que de boa vontade se ocupará do caso.” - (do Corriere Della Sera)

Resumindo: Senhores responsáveis do comando da polícia – assim advertiu Berlusconi - devem compreender que, sendo Ruby parente de Mubarak, pode-se ir ao encontro de um incidente diplomático. Meditem nisto.

Pelos vistos, a confusão instalou-se no comando, as regras foram baralhadas e a menina Ruby saiu tranquilamente da polícia na companhia de Nicole Minetti, conselheira regional, “ex-higienista dental” de Berlusconi e por este catapultada em política; aliás, como de costume com as mulheres que o circundam.

Todas estas andanças, porém, ficaram registadas por agentes da polícia que não se esqueceram de as verbalizar.
De início, Berlusconi negou o telefonema; mais tarde, implicitamente, confirmou-o: sou um homem generoso e gosto de ajudar quem precisa.
Somente que se desinteressou, apenas a soube fora do comando, imitado pela encarregada Minetti que virou costas e deixou a rapariga ao seu destino.

Conhecendo a língua comprida de Ruby, que medos assaltaram Berlusconi que o impeliram a telefonar e a lançar mão de uma tão impudente e inaudita aldrabice, a fim de que a rapariga desaparecesse sem deixar rasto?
È fácil imaginar a irritação nas altas esferas do Egipto! A embaixada egípcia esclareceu que não existe nenhum parentesco com Mubarak. Mas não era necessário. Nos arquivos da polícia, Ruby tem já um apreciável currículo.

Houve outros percalços que de novo conduziram a irrequieta adolescente à polícia, vieram à superfície factos que levaram a magistratura a abrir um inquérito sobre “favorecimento da prostituição” e quejandos.

Nos vários interrogatórios a que foi submetida pelo ministério público, Ruby foi irrefreável em descrições picantes, em contradições, em jactâncias, em verdades, em desmentidos. Os magistrados tiveram de proceder com mil cautelas, a fim de seleccionar o verosímil.
Nessa torrente de esclarecimentos, Ruby falou das suas participações nos serões de casa Berlusconi; dos intermediários que a levaram (hoje implicados no inquérito); como foi compensada; uma vez também tomou parte no bunga-bunga…

Grande perplexidade dos magistrados! Mas que é isso de bunga-bunga?!
"Um ritual do patrão de casa de convidar algumas hóspedes, as mais disponíveis": “Sílvio disse-me que tinha copiado aquela fórmula de Kadhafi: é um rito do seu harém africano” . E, segundo informam, a mocinha Ruby, para exemplificar, mimou o bunga-bunga.

A imprensa, obviamente, não pecou por omissão de pormenores sobre o que significa a famosa expressão que ribomba por todos os lados.
Comecemos pelo mais suave: 1- a simples palavra bunga, em indonésio, significa flor.
2 - Nas tribos africanas, bunga-bunga significa “brutal estupro anal infligido como forma de punição a quem ultrapassa os territórios das tribos”. Existe uma anedota sobre este significado – a predilecta de Berlusconi - mas que eu não conto.
3 – “Rituais eróticos que envolvem um potente e várias mulheres nuas”.

Fiquemo-nos por aqui. Parece-me que já todos compreenderam.
Também compreenderam que Berlusconi, além do mais, é um “homem doente” cuja tara é incontrovertível, exactamente como alertaram a ex-mulher e, a semana passada, o semanário “Família Cristã”.

O escândalo avoluma-se cada vez mais, a magistratura começou a investigar o arrogante telefonema de Berlusconi e a consequente trapalhada ou atropelos das regras que se verificaram na Questura de Milão.
E eu suspiro para que esta seja a excelente oportunidade de, politicamente, a Itália virar página.

Mas o neologismo bunga-bunga explodiu e, sobretudo na internet, a troça, o sarcasmo, a ironia, a galhofa tornaram-se num tsunami.
A imprensa, entretanto, prossegue nas suas análises implacáveis de um escândalo que se está a revelar bem pior que os precedentes.
Alda M. Maia

3 Comments:

At 3:58 da tarde, Blogger Teresa Fidalgo said...

D. Alda,

Berlusconi existe mesmo??? É mesmo o chefe do governo italiano??? Não será antes uma figura do imaginário? É que já é demais!!!


Em privado, ainda me há-de contar a tal anedota sobre o significado do bunga-bunga...


Um beijinho grande

 
At 2:31 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Maria Teresa

Respondo-te em atraso, desculpa.

Já sabia que irias querer saber algo mais sobre a célebre anedota.
Contar-ta-ei.
É uma característica de Berlusconi contar anedotas e, freuentemente, "mete água"!
Esta é de origem americana e Berlusconi aplicava-a a dois dos seus ministros

Um abraço
Alda

 
At 2:33 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Corrijo a palavra FREQUENTEMENTE

 

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