segunda-feira, novembro 15, 2010

SE OS NOSSOS PROFETAS DA DESGRAÇA SE CALASSEM!...

Depois do desmoronamento da “casa dos gladiadores” em Pompeia, imediatamente recordei uma minha visita recente a Guimarães, a pequena cidade (cittadina) portuguesa que será capital europeia da cultura em 2012.
Encontrei monumentos, palácios, igrejas conservados de uma maneira impecável e inseridos num contexto urbano resplandecente de ordem e limpeza.
É óbvio o confronto com tantas realidades italianas, ainda mais ricas sob o aspecto artístico e natural, mas carentes no que concerne a sua manutenção.
A razão desta diferença tornou-se evidente, quando me apercebi que Guimarães estava atapetada de grandes cartazes com a escrita: «O nosso património artístico é o nosso futuro»
Carta do leitor italiano Guido Araldi, Milão, enviada ao jornal La Repubblica em 10 Novembro 2010.

Guimarães não ficará muito satisfeita por ser classificada como uma cittadina (pequena cidade), mas os vimaranenses têm grande motivo de orgulho de terem sido vistos como cidadãos de alto civismo. Acima disto, a pouco mais se aspira.

Quando já nos sentimos estonteados, quase intoxicados pelos quotidianos prenúncios de ruína e miséria das nossas Cassandras improvisadas sobre esta Terra Lusa, depreciada e mal amada pelos seus naturais, conforta o conhecimento de opiniões como a que acima transcrevo.

E é inegável que Portugal é mal amado e depreciado por quem deveria cultivar sentimentos opostos, embora comedidos e atentos às realidades.

Dia após dia, as chamadas elites não renunciam a exibir o seu virtuosismo de crítica destrutiva. Tudo é negro, por vezes cinzento, mas sempre de tom escuro. O País navega no mare nostrum da mediocridade e nada tem que o possa elevar a níveis superiores.

É curioso que essa mediocridade é mais claramente perceptível em quem se pavoneia de douto observador crítico. Em muitos casos, é pessoa qualificada, sem dúvida, mas a mediocridade patenteia-se na falta de objectividade, responsabilidade e equilíbrio.

Por exemplo, revestem peso e idoneidade as opiniões económicas e financeiras do Governador do Banco de Portugal, o Dr. Carlos Costa.
A minha impressão foi péssima, todavia, quando o ouvi declarar: Os mercados financeiros têm razão para ter dúvidas em relação a Portugal, devido ao desempenho orçamental passado e aos elevados níveis de défice público e da dívida do país. O nosso track record não nos confere confiança.”

As verdades podem dizer-se de várias maneiras, Sr. Governador! Há tantos eufemismos para dizer o mesmo, mas sem as consequências que franquezas irreflectidas podem causar. Ora, bem sabemos que, no mundo da finança especulativa, certas declarações de titulares de cargos importantes podem desencadear terramotos. Não faltam exemplos.

Aludindo ao nosso grave estado de crise, por que não exprimir-se dentro de concepções que inspirem confiança em nós próprios e nas potencialidades que seríamos capazes de extrair do que já existe?
As opiniões negativas e catastróficas deixemo-las aos Medina Carreira de turno.

Somos o maior produtor europeu de lítio, o metal que serve para baterias dos computadores portáteis, telemóveis, câmaras digitais, etc. Se bem que não seja no estado puro, pois vem junto a outros metais, mesmo assim é um recurso importante. A maior parte dos portugueses tem conhecimento disto?

Vejamos o que afirmou Simon Svergaard, vice-presidente do Reputation Institut sobre Portugal, numa entrevista ao jornal Público de 8 de Novembro 2010.
[…] Portugal é um dos países onde há um desequilíbrio entre a forma como os estrangeiros vêem o país e como os portugueses o vêem. Quando se vive num país, tende-se a ser mais positivo para com esse país. Em Portugal, isso não acontece. (Permiti-me escrever “desequilíbrio” em vez do original “equilíbrio”. Entendi que fazia mais sentido).

Quanto à percepção dos países do G8, Portugal é um país muito bonito e com um estilo de vida apelativo. Em contrapartida, tem pontuações mais baixas ao nível do avanço económico, por ser um país que não se identifica com nenhuma grande marca e por ser visto como pouco desenvolvido no campo da tecnologia, quando, na realidade, é bastante desenvolvido.
[…] Portugal tem uma rede de infra-estruturas viárias que é das melhores da Europa, tem uma rede de comunicação moderna, um sistema bancário em que todos os ATM estão interconectados. Há países considerados muito desenvolvidos, como os da Escandinávia, que não têm estes avanços.
O problema é: será que o resto do mundo sabe desta faceta?
[…]

Penso que esse resto do mundo não sabe, embora concedam prémios aos nossos cientistas; embora alberguemos excelentes investigadores, nacionais e estrangeiros; embora existam empresas que se notabilizam no campo tecnológico e testemunhem exportações lucrosas.
Não esqueçamos, por exemplo, que o tão alvejado computador portátil Magalhães é visto, no exterior, com grande interesse – as vendas comprovam-no. Não obstante, como tudo servia e serve para, indiscriminadamente, desacreditar um primeiro-ministro, ninguém se preocupou de querer saber quem são e como aí chegaram os titulares da JP Sá Couto que monta esse computador.
Se com honestidade e sem tácticas políticas ou ideias preconcebidas se esforçassem por conhecer esse facto, não hesito em sustentar que essa empresa seria apontada como um bom exemplo para quem tem ideias, trabalha, sacrifica-se e deseja criar riqueza no País.

Mas, insisto, se o dito establishment nacional é o primeiro na fila do derrotismo, não estranhemos este desconhecimento do que é o Portugal da actualidade.

Quanto à tagarelice dos políticos, salvo raríssimas excepções, não me merecem a mínima credibilidade.
Quanto falam! Com quanto despudor se auto-ilibam de responsabilidades!
Retórica, retórica, sempre e só retórica: penosa e frequentemente, nem sequer de boa qualidade!

A maior parte destes eleitos, escolhidos pelos chefes de partido e não pelo eleitor, conhecerá os diferentes dossiês a que devem dar voto de aceitação ou rejeição? Conhecerão o País verdadeiro que representam e cujos interesses e notoriedade devem defender e promover? Nutro grandes dúvidas, e lamento que assim seja.
Alda M. Maia

Nota: os sublinhados a negrito, nas transcrições, são de minha iniciativa.

4 Comments:

At 2:28 da tarde, Blogger Teresa Fidalgo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 2:28 da tarde, Blogger Teresa Fidalgo said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 2:31 da tarde, Blogger Teresa Fidalgo said...

Olá D. Alda!!!

António Aleixo é que caracterizou bem esta situação:"Há tantos burros mandando em homens de inteligência, que às vezes fico
pensando, se a burrice não será uma ciência..."

Gosto da visão positiva como encara as coisas.
Na verdade, se estivermos atentos (muito atentos, porque estas notícias passam despercebidas dado o seu pequeno destaque) verificamos que temos gente muito inteligente em Portugal - vamos sabendo que temos JOVENS cientistas (e outros não tão jovens) a fazer excelente trabalho, quer cá em Portugal, quer no estrangeiro (ainda há pouco a notícia dos jovens cientistas que "criaram" mini-figados que serão fundamentais para transplantes); vamos sabendo que o nosso país está (imagine-se!) entre os países europeus com mais empresas inovadoras (e nessa matéria a D. Alda muito bem exemplifica com a JP Sá Couto, mas há outras, claro!); vamos sabendo que fomos e somos pioneiro em tantas coisas... e estamos na situação que estamos.
É incompreensível!

... e mais não acrescento, pois a D. Alda já disse tudo, muito melhor do que eu!

Um beijinho grande!

 
At 4:08 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Ciao, Teresinha

A burrice é a mosca que importuna a ciência ou o bom senso, claro, mas ninguém melhor que ela para dar coices - de preferência, sub-reptícios - e instalar-se nos mais variados pedestais.
E nós que a aturemos!

Quanto à desestima que tantos compatriotas manifestam pelo próprio País, ali entra a burrice de mistura com uma pedantaria irritante. Não os suporto.
Um abraço
Alda

 

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