segunda-feira, janeiro 03, 2011

O GENTLEMAN DO COLECCIONISMO FILATÉLICO: ALBERTO BOLAFFI
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Como primeiro texto do novo ano, quero escrever sobre esta personagem de quem muito me falaram, quer familiares muito próximos, quer pessoas que a conheceram bem ou com ela contactaram.
As opiniões não divergiam: um senhor muito culto, educado, sereno e bondoso, dotada de um fino sentido do humor. Em conclusão, um verdadeiro gentleman.

Tive grande, grande pena de o não ter conhecido, mas falecera em 1944 e eu cheguei a Turim quase vinte anos depois.

Em Maio de 2010, os correios franceses, celebrando o 150.º aniversário da “Bourse aux timbres”, dedicaram uma emissão de selos a personagens que maior lustre deram à filatelia. Entre elas, um italiano: Alberto Bolaffi – selo acima reproduzido.

Fez-me sorrir o início do artigo do jornal La Repubblica (secção de Turim), quando publicou esta notícia.
Precedentemente, os emproados franceses (gli spocchiosi francesi) tinham dedicado um selo apenas a cinco italianos: Leonardo da Vinci, Francesco Petrarca, Michelangelo Buonarroti, Giuseppe Lagrange e Giuseppe Mazzini. Desde segunda-feira passada (17 Maio 2010), a efígie do sexto, num selo de além Alpes, é a de Alberto Bolaffi (…)

Grande motivo de orgulho, certamente, para os descendentes, embora já tivesse sido editado um selo italiano, em 1991 – dia da filatelia – dedicado a Alberto Bolaffi e ao filho Giulio.

Mas descrevamos a origem da paixão deste senhor pela filatelia.
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Nos últimos anos do século XIX, um adolescente enamorou-se dos selos da correspondência proveniente de uma tia que residia num país da América do Sul. Iniciou a sua colecção. Assim nasceu a mais importante casa filatélica italiana, em Turim, e um nome de grande projecção internacional: “Bolaffi Coleccionismo 1890”. Também com sede em Milão, Roma e Verona, tornou-se numa sociedade por acções em 1997.

O jornal Corriere Della Sera, num artigo em que aludia a Bolaffi, usou a expressão: “Uma instituição em Turim”. Não está longe da verdade.

Ultrapassados os tormentos da guerra, em 1945, o filho mais velho, Giulio Bolaffi, tornou-se no digno continuador da actividade e da casa fundado pelo pai, já nessa altura um nome de grande prestígio.

Giulio não só ampliou essa actividade, como a diversificou, abrangendo vários campos a que um coleccionismo culto pode levar e dando também origem, em 1961, à “Giulio Bolaffi editor” (GBE).
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Creio que o filho, Alberto Bolaffi Jr., e hoje titular daquela importante casa, tivesse sido o grande impulsionador das preciosas publicações de arte e criação de uma das melhores revistas de arte italianas, a “Bolaffi Arte”.

Poder-se-á afirmar que há uma particularidade que caracteriza a GBE. Refiro-me á publicação de catálogos sobre as mais diversas matérias, além do catálogo filatélico Bolaffi que é, praticamente, o emblema da casa, assim como a revista “O Coleccionador”.

Nos anos 60, portanto, nasceu uma esplêndida série de catálogos anuais, muito completos e úteis para quem se interessava de arte ou quem seguia os relativos mercados.
Surgiu o primeiro em 1962: Catálogo Bolaffi de Arte Moderna. Mas a este juntaram-se outros: catálogo de arte do século XIX, do século XVIII; catálogos de gravuras, de escultura.
A coroar estas edições, publicaram um dicionário, em onze volumes: “Dicionário Enciclopédico Bolaffi dos Pintores e Gravadores Italianos”.
Possuo, com sumo prazer e interesse, a quase totalidade destas obras. Considero-as uma rica e inesgotável fonte de documentação e informações.
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Mas outros catálogos surgiram: catálogo de cartazes de época; de vinhos; de armas de caça; de automóveis; do cinema; de cachimbos e por aí adiante.

Em 2005, a “Bolaffi Coleccionismo” criou o neologismo filografia.
Da atenção pelo selo – o motor que, a partir de 1840, tornou possível a difusão universal da comunicação escrita – Bolaffi passou, consequentemente, à investigação sobre a escrita, desde as suas origens até aos mais recentes desenvolvimentos.”
Novo catálogo e inauguração de um rico arquivo histórico sobre essa preciosa documentação.

Não posso deixar de assinalar a já famosa sala de leilões filatélicos, numismáticos, cartazes de época, autógrafos e livros antigos, mobílias e pinturas antigas: Hastas Bolaffi embaixador.
Se alguém possui, esquecidos em casa, artísticos cartazes de época, já sabe onde valorizá-los.
Também nisto a Bolaffi foi criadora e inovadora.

Um último particular. O filho mais novo do fundador Alberto Bolaffi, Dante Bolaffi - também ele filatelista, tendo exercido essa actividade, durante 14 anos, em Nova York - foi um veterano e inveterado radioamador cujo indicativo era I1TU.
Não se pode dizer que aquela família não prime por uma admirável originalidade.
Alda M. Maia

6 Comments:

At 2:39 da tarde, Blogger Unknown said...

Alda cara,
risentire la tua voce mi ha riportato piacevolmente indietro di anni. Ho nostalgia delle nostre lunghe telefonate.
Ho cercato di leggere la maggior parte del tuo blog con l'aiuto del traduttore e qualche cosa ho capito. Sei instancabile e molto brava.
Complimenti per il francobollo che la Francia ha dedicato ad Alberto Bolaffi. Sono orgogliosa di avere la tua amicizia. Mi meraviglio che la stampa nazionale non abbia dedicato più spazio a questo evento che onora un cittadino italiano.
Cara Alda, sono iniziati i festeggiamenti dell'Unità di Italia; nel 1961 è stato bellissimo il periodo maggio-ottobre che poi ti racconterò.
Un abbraccio.
Diletta.

 
At 4:18 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Carissima Diletta

Che sorpresa!! Come sei arrivata qui? Lo so: hai cercato Alberto Bolaffi e sei inciampata nel mio blog.

Mi ha fatto un gran, gran piacere leggerti in questo spazio. Presumo che tuo figlio Alberto ti abbia dato una mano... o sbaglio?
Cerca di farti presente in futuro. Il traduttore, più o meno, aiuta a capire quello che scrivo nella mia lingua madre. La tua opinione, perciò, sarà gradita.

Forse, nel prossimo maggio, sarò a Torino.
Relativamente al 150.º anniversario dell’Unità d’Italia, seguo tutto con la massima attenzione.
Hai visto il francobollo dedicato al padre di mio marito? Sai che mi ha molto commosso?!

Un grande abbraccio, Diletta, e a presto
Alda

PS: anch’io ho in grande apprezzo la tua amicizia.
Salutami tuo figlio

 
At 11:03 da manhã, Blogger Teresa Fidalgo said...

Viva Madame Bolaffi,

...imagino o orgulho que também esteja a sentir... eu sentiria...

Um beijinho

 
At 6:03 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Olá, Dona Teresinha!

Seja bem-vinda, de novo, a estas paragens.

Olha que o orgulho pertence, inteirinho, aos descendentes. E bem o merecem.
Eu apenas me comovi, pensando neles; mas sobretudo num, como é natural.

Um beijinho.
Alda

 
At 1:17 da tarde, Blogger ACO said...

Que bom ler este texto!
Ab.
António Cândido

 
At 7:22 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Vê-lo aqui, esta também foi uma surpresa, caríssimo ACO!

Muito obrigada e um abraço
Alda

 

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