segunda-feira, março 07, 2011

INDIGNAI-VOS:
O MANIFESTO DA RESISTÊNCIA CIVIL

Efectivamente, há sempre motivos para nos indignarmos, se temos o brio de nos não fecharmos na apatia de quem apenas sabe resmungar e jamais reagir a certos fenómenos negativos que, dia após dia, se avolumam e desvirtuam ou sufocam a harmonia dos direitos e deveres que uma verdadeira democracia distingue e põe em prática.
Impõe-se, portanto, uma “resistência civil, uma insurreição doce, pacífica”, enfim, um indignai-vos, sem violências, contra este estado de coisas.

É esta a essência do famoso panfleto “Indignez-vous”, de Stéphane Hessel, publicado, nos fins de Outubro do ano passado, por uma pequena editora de Montpellier – Indigène Editions.
Até hoje, acenam a 1 milhão e 400 mil exemplares vendidos na França.
Publicado em Itália em 15 de Fevereiro, em apenas dez dias venderam 25 mil.

Já foi traduzido em português, com prefácio de Mário Soares, e estará à venda no próximo 15 de Março. Certamente que serei um dos primeiros compradores.

O inserto P2 do jornal Público de sexta-feira passada, apresentou um artigo muito completo - de Sérgio C. Andrade - sobre Stéphane Hessel e o tema do opúsculo “Indignai-vos”.

Quem é Stéphane Hessel? Sucintamente: nasceu em Berlim em 1917, de uma família intelectual judaica; imigrado em França desde 1925 e naturalizado francês; frequentou a prestigiosa École Normale Supériore de Paris; conviveu com altas figuras do mundo intelectual e artístico de França; aderiu à Resistência, na última guerra; diplomata; por último e de grande importância, foi um dos 12 redactores da "Declaração dos Direitos do Homem", em 1948.

Os valores democráticos e sociais por que combateu contra os nazis e durante a sua existência de 93 anos, hoje são desclassificados em pró da “ditadura dos mercados financeiros” e dos enriquecimentos fáceis.
Os direitos do homem e as conquistas sociais são postergados em planos inferiores ou omissos. Em face deste liberalismo sem alma, decidiu lançar um repto aos jovens, incitando-os a indignar-se e insurgir-se, pacificamente, contra estas derivas do novo século.

Desde os primeiros dias de Janeiro que a imprensa italiana tem dado largo espaço a este caso editorial.
No dia 28 de Fevereiro, La Repubblica publicou uma entrevista a Stéphane Hessel.
À pergunta: Ficou admirado pelo entusiasmo que o seu apelo desencadeou?
Resposta: Não devemos manter ilusões. A maioria das pessoas, em qualquer época, prefere manter-se em silêncio, fechar-se na própria hortinha. Durante a guerra, os jovens que apoiavam a Resistência foram apenas 10% da população. Provavelmente, também hoje existe apenas uma minoria iluminada. A nossa experiência, porém, demonstra que pode ser suficiente para mudar o curso da História.

Pergunta: Indignar-se. E depois?
Resposta: Entretanto, significa pôr em foco o problema. É como nomear um objectivo, para depois centrá-lo. Só deste modo se pode ir em busca de soluções. No fim do livro, falo de algumas propostas. Juntamente com Michel Rocard, estou a trabalhar num texto sobre acções concretas, compartilhadas por cerca de cinquenta ex-chefes de estado e de intelectuais, como Edgar Morin, Amartya Sen, Joseph Stiglitz.

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Indignai-vos! Como gostaria que esta exortação estivesse sempre presente no espírito de quem sabe reagir - comedidamente, mas com firmeza - às deformações da realpolitik; aos abusos de poder; às distorções institucionais; à mediocridade, por vezes desonestidade, de quem administra a coisa pública; à apatia, indiferença e egoísmo da sociedade civil!

Esperar naquele 10% iluminado em que espera Stéphane Hessel?
Considerando os nossos jovens, observando a frivolidade como vivem e a trivialidade dos seus entusiasmos, poderemos esperar na existência, malgrado estas impressões negativas, de um promissor dez por cento de iluminados? Duvido.
Serei injusta, mas vejo muita ignorância, mesmo em jovens licenciados cujos conhecimentos são apenas o que os exames exigiram para obter o diploma.
Recordo a recomendação (que presenciei) de um destes licenciados a um amigo: “Ó pá, entra em política e verás como encontras bons empregos”. A realpolitik no seu máximo!

Certamente que não podemos nem devemos generalizar. Espero, portanto, que o panfleto de Stéphane Hessel seja, também em Portugal, um caso editorial de grande sucesso e que o “Indignai-vos” desperte a consciência civil de tantos jovens (os que sabem interpretar o que lêem), assim como daquele batalhão de adultos que apenas sabe recitar e adormentar-se no já tão estafado “são todos iguais”.
Alda M. Maia