segunda-feira, junho 27, 2011

DRAMA E COMÉDIA

Uma cronicazinha, epigrafada no jornal Público de sexta-feira, 24 de Junho, informava que é cada vez maior o número de presos em Portugal e cada vez mais deficitário o número de guardas prisionais.

Como ontem foi celebrado o “Dia Internacional contra a Tortura”, este seria um excelente tema para ser investigado e desenvolvido em profundidade. Não só no que concerne a falta de guardas prisionais, mas também as condições em que os presos descontam a pena ou os detidos que, ainda imputados, aguardam julgamento na prisão.

A sobrelotação das cadeias, as péssimas condições de alojamento dos encarcerados, assistências sanitárias deficientes e, frequentemente, pelas brutalidades a que são submetidos, pode-se inferir que, nas prisões, a tortura se não é clara é implícita.

Os verdadeiros criminosos, indefectivelmente encalecidos, sabem estabelecer oásis de intocabilidade. Os demais condenados ou apenas imputados por crimes acidentais (apelidemo-los deste modo), toxicodependentes, imigrantes clandestinos, os sem abrigo ou doentes psíquicos são as principais vítimas.

Impressionou-me sobremaneira o testemunho de pessoas ligadas à política italiana que se interessam por este problema e lutam por que seja resolvido humana e socialmente. As cadeias italianas têm capacidade para 40.000 presos, mas albergam cerca de 70.000.
Um programa muito interessante de RAI3 – “Agorà” (Ágora, em português) – na quinta-feira passada ocupou-se do número impressionante de suicídios nessas cadeias. Desde o princípio deste ano, por exemplo, já se contam 28 suicídios de presos relativamente jovens, entre os quais alguns estrangeiros. De 2000 a 2011 morreram 1.835 detidos, sendo 654 por suicídio.

Não se suicidam num ráptus de desconforto ou desespero, mas determinada e premeditadamente, tal é a insuportabilidade de vida naqueles lugares que já não são de pena, mas de destruição moral e física.
O modo frequente é o enforcamento, usando os lençóis atados às grades da janela das celas. A acentuar tal determinação, como a altura das janelas é baixa, encolhem as pernas e abandonam o corpo.

Outra situação trágica é a que se vive nos Hospitais Psiquiátricos Criminais. As pessoas são atiradas para aqueles lugares e ali ficam esquecidas. Em que condições?
No mesmo programa “Ágora” mostraram uma reportagem sobre estes infelizes. Abstenho-me de descrever certos casos verdadeiramente arrepiantes. Um único bastou para ocupar-me o pensamento nestes últimos dias: a angústia de um homem ainda novo que, perante a câmara de vídeo, implorava desesperadamente o pai para que o fosse salvar. Ora, o pai desconhecia a situação do filho e só tomou conhecimento através dessa reportagem. Desnecessário exprimir comentários.

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Mas fujamos destes dramas e refugiemo-nos na comédia que, neste caso, tem como alvo a sovinice de Tony Blair.
Terça-feira, dia 21 de Junho, o jornal La Repubblica trazia uma notícia que me divertiu – «Tony Blair “taxaos companheiros do filho».
Resumamos o que descrevia.

O que foi um aclamado primeiro-ministro inglês, desde que deixou Downing Street, mercê de discursos, direitos de autor, consultorias, etc., etc., amontoou um capital de 25 milhões de esterlinas.
Quer ele quer a mulher, Cherie, demonstram um refinado sentido para os negócios. Madame Blair, por exemplo, vendeu, em hasta online, os autógrafos do marido, assim como prendas de “Estado”.
Para umas boas férias, Tony e família opta, frequentemente, por aceitar convites de amigos ricos. Esta característica já era minha conhecida, pois recordo as férias que passava em casa de amigos, na Toscana.

A fim de celebrar o final do ano escolar, numa escola pública e católica, do filho mais novo, Leo, o casal Blair convidou os companheiros, cerca de trinta, para uma festa na casa de campo (uma propriedade comprada há dois anos por 6 milhões de esterlinas) e que fica a uma hora de Londres. Para o efeito, alugou um autocarro.

As famílias destes companheiros ficaram muito lisonjeadas. Porém, o sorriso esvaiu-se, quando lhes foi comunicado que deveriam pagar dez esterlinas, cada um, para a viagem.
O convite explicava que, por razões de segurança, é proibido o acesso de automóveis à residência. Um lanche grátis ainda se concede, agora a viagem!...
A notícia espalhou-se. O escândalo eclodiu rumorosamente. Apercebendo-se da miserável gafe, quiseram remediar, avisando a escola que pagariam por quem não pudesse expender dez esterlinas. Pior a emenda que o soneto.
 
Concluindo, uma sovinice indecente. Não haveria por aí um Gil Vicente dos nossos tempos? Que bela farsa sobre o episódio e a personagem!