segunda-feira, outubro 10, 2011

SE AS MODERNAS CASSANDRAS FALASSEM MENOS…

A Cassandra mitológica foi condenada a que ninguém acreditasse nos seus dons proféticos, embora autênticos.
Às nossas cassandras modernas nenhuma serpente dos templos lhes lambeu os ouvidos. Foram apenas tocados por umas bicadinhas de pavão.

Este género de cassandras ou profetas da desgraça já disseram tudo o que deveriam dizer; já prognosticaram todos os eventos possíveis, prováveis ou indefectíveis que varrerão o euro e, de caminho, desmoronarão a União Europeia.

Não seria tempo que estes especialistas e pseudo-especialistas de assuntos financeiros e económicos pusessem travão a tanta verborreia negativista, revirassem o assunto e ponderassem que o imprevisível pode estar sempre ao virar de uma esquina?
Se bem que a crise – talvez mais política que económica, segundo a opinião geral – seja verdadeiramente assustadora, instilar uma pequena dose de optimismo não seria recomendável?

Que me perdoem os que falam com profundidade de conhecimentos reforçados pela experiência e que se exprimem, nos momentos oportunos, com uma pacatez equilibrada, embora sem esconder a realidade dos factos.
No que concerne os restantes, quanto se tornaram repetitivos, monótonos, enfáticos - por vezes presunçosos - e deprimentes!

O “efeito dominó”, então, é o leitmotiv de todos os debates ou análises. Não seria oportuno que encontrassem outra metáfora mais original?
Se cai a Grécia, os demais, e bem sabemos quem são estes demais, rolam por aí abaixo, mais como zombies sem reacções contrastantes do que pedras de um dominó.

Mas será mesmo assim? Dívidas soberanas ou plebeias que sejam, os países que se encontram a nadar contra a odiosa corrente das especulações financeiras, não saberão encontrar energias e ideias que atenuem o choque, que saibam opor um alto-lá a ganâncias e comecem a agir com forte determinação para equilibrar défices, repor credibilidade e impulsionar criatividades que sublevem a economia?

Devem estes países, as suas populações, vítimas da incompetência dos gestores da coisa pública ou de imprevistas calamidades naturais, curvar a cabeça à resignação e aceitar imposições de mercados chacais?

A sociedade civil deve sempre assistir com passividade a esta tempestade que abala e derruba certezas, que semeia angústias e concretiza a praga quase pandémica do desemprego?

Devemos nós, sociedade civil, assistir indiferentes aos passinhos de minuete dos dirigentes da Alemanha e França que nada decidem nem deixam decidir, que encorajam egoísmos e opiniões contraditórias dos países da Europa central e nórdica, os tais países virtuosos? Mas virtuosos em quê? Repare-se bem nas dívidas soberanas destes países: poucos respeitam os critérios de Maastricht. Critérios que, precedentemente, foram atropelados com desenvoltura e arrogância pelos países que hoje exigem rigor e sacrifícios aos “PIGS” pecadores.

Reconheçamos, todavia, que na cimeira de Berlim da semana passada, foi consolador ouvir discursos e declarações, com uma certa determinação, sobre medidas que de há muito deveriam ser tomadas. É já um bom passo.

Certamente que estas observações não servem para justificar as cigarras portuguesas – governantes e governados – que entenderam não ser necessário um escrupuloso rigor nos orçamentos do Estado.

Acrescentemos ainda que, dar sempre carta-branca a políticas nebulosas e a políticos ambiciosos, cujo interesse e pensamento únicos é serem eleitos, é formalizar uma espécie de casta, os partidos, a quem não se exige um vasto património de ideias que os valorize e faça progredir o país.

Bem desejaria ver o despertar da sociedade portuguesa para um interesse activo, dinâmico e persistente por tudo o que diz respeito a deliberações que levam ao progresso, bem-estar e dignidade do país.
Gostaria de ver esta sociedade civil, esta “consciência colectiva”, sempre tão apática e conformada, tornar-se mais participadora e que soubesse estimular iniciativas concretas sobre as instituições, o emprego, o trabalho, a escola e tantas outras causas.

Protestar, manifestar por motivos generalizados nunca conduz a qualquer resultado: exterioriza-se a irritação ou desagrado, desabafa-se e, no ar, fica ou ficou o nada.
Escolha-se uma determinada causa e pugne-se por essa causa. E ao defendê-la, insista-se neste conceito que ouvi sábado passado e que achei belíssimo: “Não pedimos nada para nós, mas pedimos muito para todos.”