segunda-feira, janeiro 30, 2012

EUROPA: OS “SUPER-MARIOS”;
O ELEMENTO PERTURBADOR

O editorial de Teresa de Sousa, jornal Público de 22 de Janeiro, na análise sobre esta pobre União Europeia fragmentada e sobre a ineficiência de quem a deveria unir, o título e subtítulo escolhidos agradaram-me plenamente.
Super-Marios”: os italianos que ainda podem salvar a Europa” – “Mario Monti e Mario Draghi devolveram à Itália o seu prestígio de país fundador da Europa comunitária”.

Efectivamente, é confortante verificar quão grande foi a mudança que se verificou e verifica no excelente conceito que hoje á reservado à Itália. Uma prova irrefutável do que significa pôr à frente da governação de um país pessoas qualificadas, não somente no campo político, mas, acima de tudo, em competências e valores éticos.

Seguir com interesse e atenção a obra de Mário Monti e dos seus ministros, prova-se um sentimento de alívio paralelo a uma ampla aquiescência pelo que faz com determinação, embora com prudência e respeito pelas partes sociais e pela representatividade do Parlamento.

No que concerne a nomeação do governo Monti não houve quaisquer atropelos à democracia, contrariamente ao que vários analistas – seguidores dos argumentos de Berlusconi, assim parece - continuam a referir.
Jamais traindo a Constituição, pôs-se termo à agonia que empurrava o país para o abismo e varreu-se um dos períodos mais deletérios da política italiana: o berlusconismo. Oxalá seja para sempre; definitivamente.

Quanto à questão europeia, a autoridade de Mário Monte, nos vários encontros e vértices, tem dado um ritmo mais sério ao sólito minuete Merkel/Sarkozy. Se bem que, este último tem sido mais comparsa que elemento decisor.

Nota-se que a Sra. Merkel adoçou ligeiramente o tom autoritário de Estado-membro economicamente mais forte.
Continua, porém, a constituir aquilo que me parece um elemento perturbador da solução dos problemas que nos causam tantos sacrifícios, temores e angústias.

Em face do reiterado obstrucionismo – que outra coisa tem sido? – a qualquer proposta razoável para aliviar a Europa da opressão dos mercados financeiros e estancar a hemorragia financeira dos países que devem pagar taxas de juros exorbitantes que os asfixiarão, é difícil refrear um certo agastamento contra o actual governo alemão.

A Chanceler autonomeou-se, em detrimento das instituições europeias, directório absoluto do que se deve e não deve fazer acerca de dívidas soberanas e orçamentos. Porém, nos infinitos vértices inconcludentes a que temos assistido, tudo quer fazer e tudo faz e diz para que a Europa continue à mercê de mercados sem confiança e os países mais expostos afundem, económica e financeiramente. Se, como mínimo, falasse menos!...

Os vaticínios sobre a implosão europeia e desaparecimento da zona euro, emitidos por instituições e personagens idóneas, sucedem-se dia a dia. Não sei se o vértice de hoje, em Bruxelas, conseguirá acalmar a tempestade.

O desolador nanismo político europeu da Chanceler alemã e dos seus parceiros de governo, de mistura com um certo autoritarismo teutónico; o egoísmo nacional bem alimentado por um governo que até hoje não soube informar o que significa coesão e cooperação e o que o euro e UE têm representado para a economia alemã e estabilidade europeia, concluo que a Europa, certamente, não está em boas mãos.

O advento de Mário Monti contribuiu para que a Chanceler só agora despertasse para lembrar que a Alemanha foi o país que mais lucrou com a criação da zona euro; que o euro não deve estar em discussão, etc., etc.
Por que o não disse e o não proclamou há dois anos, encorajando e activando uma intervenção mais enérgica no caso da Grécia, de modo a que não houvesse dúvidas sobra a solidez da União Europeia?

Levados por reminiscências do passado, é quase inevitável uma amarga reflexão: mas deverá ser sempre a Alemanha que, de um modo ou de outro, embora também se admita o exagero, mais uma vez deva escaqueirar esta nossa Europa?
Confiemos nos dois Super-Marios! É sempre uma esperança.

No Fórum Económico Mundial de Davos, eis o nosso Portugal a ser apontado como o país que se segue: a Grécia já foi sentenciada; Portugal não inspira confiança sobre a capacidade de pôr as contas públicas em ordem. E eu repito a pergunta: que mais nos espera?

O economista Nouriel Roubini – o que prognosticou a crise 2008 - sempre no mesmo Fórum, vaticinou que, “dentro de um ano, a Grécia estará fora do euro. Seguir-se-á Portugal e a zona euro será destruída nos próximos 3 / 5 anos”.

Insisto na minha angústia: que mais nos espera, a nós portugueses, e ainda por cima com um Relvas no papel de Richelieu?

2 Comments:

At 7:26 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Viva, Alda

Essa do Relvas de Portugal pretender ter assumido o papel de Richelieu está muito bem perspectivada.
Eu, que já não percebo nada do que se passa neste país, já me questionei várias vezes, sobre como é que Passos Coelho desencantou esta alma penada?
Ah os bastidores, atrás das cortinas (algumas só de fumo mas que não deixam que se veja o que se passa), justificam tanta coisa!

É angustiante pensar em como com o voto de milhões de "ignorantes" (que se deixam enganar pelos vendedores de ilusões, que lhes desculpam todas as mentiras com um ar seráfico, também imberbe e pretensamente cândido, uma honestidade intelectual a toda a prova...)
se elegem novos senhores absolutos, que fingimos que não percebemos para onde nos querem levar!...

Que Europa é esta?

Concordo plenamente com a nova imagem que os "super-Mários" estão a levantar para a Itália. Só não se consegue entender como é que Berlusconi conseguiu manter-se tanto tempo à frente dos destinos da Itália, com aquelas suas atitudes e ideias de play-boy mal enjorcado!?

Uma abraço amigo
António

 
At 7:47 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Olá, António!

Muito prazer em vê-lo por estes sítios.

Acredite que sinto uma certa angústia pelo que poderá suceder ao nosso país, perante a incapacidade da Europa de mandar um sinal forte aos mercados financeiros. Que tristeza!

Está a ver o panorama geral europeu e o que significa ter líderes medíocres? Excepto Mário Monti, claro.

Quanto a Berlusconi, a sua perplexidade é igual à minha: como foi possível?!
Proprietário de três televisões e colocando na RAI gente ao seu serviço; possuidor de vários jornais, foi fácil intoxicar a ignorância... que é sempre a maioria, como sabe.

Os ventos estão a mudar.

Tornando a Portugal: mas não haverá ninguém que ponha uma mordaça ao Sr. Relvas? Quanto me irrita a verborreia daquele homem!
E são estes os nossos melhores? Que Deus nos acuda!

Um grande abraço e um beijinho à Zaida
Alda

 

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