segunda-feira, julho 16, 2012

A VERDADEIRA INFORMAÇÃO
 ESTÁ NOS DETALHES

Frequentemente, nos principais órgãos de informação, os detalhes esclarecedores e concretizadores de eventos importantes pecam por superficialidade e omissão ou, ainda mais frequentemente, são desvirtuados conforme as ideias e interesses de quem os comunica.
É deste modo que o grande público, mal informado, constrói opiniões deformadas e interioriza concepções muito próximas de populismos que se dispensariam, mas sempre bem aproveitados pelos politicantes de turno.

Insisto nesta minha ideia: cidadãos bem informados e alvo de uma informação alargada, séria e objectiva constituem uma apreciável mais-valia para qualquer país onde essa preocupação é consuetudinária.
Refiro-me, obviamente, à informação sobre acontecimentos e factos do funcionamento das instituições que regem a democracia, o progresso, o bem-estar das populações, assim como tudo o que concerne a relação do país com outros Estados.

Tudo isto vem a propósito da União Europeia e da qual fazemos parte.
Há duas semanas, escrevi neste blogue que começava a desgostar-me o sentimento antialemão que se ia intensificando.

Sabia que, dentro da Alemanha, existia uma forte corrente contrária a qualquer ajuda financeira aos Estados-membros em crise. Desconhecia, porém, o rancor e desprezo como, nesse país, se referem aos portugueses, italianos, espanhóis e gregos.

Em vez de um apanhado, prefiro transcrever o que a ilustre filha de um dos maiores impulsionadores da fundação da União Europeia, Altiero Spinelli, escreveu há dias sobre este assunto.

[…] O Sul da Europa não se cansa de advertir Berlim, evocando a expansão do sentimento antialemão. Mas conhece pouco os sentimentos antieuropeus que se adensam na Alemanha.
Citamos, entre os epítetos usados pelos frequentadores dos jornais no Web, os mais significativos: “italianos, gregos, espanhóis, portugueses são escroques, parasitas, pérfidos, descarados”. “Quando apontam o dedo ao passado dos alemães, são, acima de tudo, chantagistas». São “cães, mas que ladram conforme a sua altura”. Um leitor conclui: “Quem tem amigos destes não precisa de inimigos”.
Este ódio atinge também os europeístas como Schmidt e Kohl; os verdes Trittin e Roth; o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Joschka Fischer (“um depravado moral”): “são traidores do povo, odeiam a Alemanha”.

É um clima que deve ser considerado, quando se fala do escudo anti-spread ou se celebramos progressos alcançados nos vértices europeus.
É um clima incendiário que as classes dirigentes alemãs, evidentemente, não sabem governar. A maior parte das vezes lisonjeiam-no; outras, contrastam-no, mas têm-lhe medo. Falta, tragicamente, a pedagógica capacidade de explicar as coisas «nos detalhes»: é a crítica, pesada, que o Presidente Joachim Gauck dirigiu ao Governo”. […] – Bárbara Spinelli

Foi esta expressão “nos detalhes” que me impeliu a escrever sobre a incompletude ou tendenciosidade da informação, pois vem ao encontro do que sempre pensei e que acima explicito.

Alguns órgãos de imprensa e Governo alemães deveriam ter a preocupação de explicar aos concidadãos que a contribuição do próprio país para os fundos de estabilidade financeira da zona euro é de 27% (190 mil milhões€, mas grande parte em valores de garantia) de um total de 700 mil milhões.
Superior à dos demais países, pois é em proporção à sua economia, mas não é a única a garantir esses fundos: a França contribui com 20,4%, a Itália, 17,9%, etc., etc. Recordo também que a Itália, até hoje, nada tem pedido, mas pagou para socorrer Grécia, Irlanda e Portugal. Somente a Alemanha a “grande sacrificada”!?

Deveriam ter a preocupação e honestidade de informar que a coesão e solidariedade não significam financiar gratuitamente quem quer que seja e que as condições desses financiamentos são pesadíssimas para os cidadãos dos países que deles necessitam.

Mas entretanto, e aqui vislumbro um certo cinismo, omitem informar que a Alemanha é financiada a custos abaixo de zero e inundada de capitais: a sua política do nein e as persistentes declarações hostis aos fundos de estabilidade financeira também servem de chamariz. Involuntariamente? E quem acredita nisso? A pura economia ariana é um novo credo, sacrificando friamente as populações dos países em crise, mas que foram um bom mercado para as exportações germânicas?

Não surpreende, portanto, (sempre informação de Bárbara Spinelli) que 172 conceituados economistas alemães, com o beneplácito do governador do Bundsbank, tivessem assinado um apelo onde “intimam o Governo a não ceder às pressões e recusar as medidas concordadas em 28 de Junho passado, excessivamente onerosas para Berlim”.

Porém, também é útil saber que houve um contra-apelo de grandes economistas alemães no qual os 172 “foram acusados de nacionalismo e incompetência”.
Mais um motivo que robustece a minha antipatia pelas generalizações. Em todos os países há o bom e o mau. Há a boa informação e a tendenciosidade, mil vezes pior que a mentira.

Para finalizar, quando leio os artigos de opinião dos nossos comentadores, em grande parte desses editoriais avulta o pensamento único: catastrofismo e é a Alemanha que deve cobrir, financeiramente, estes PIGS "escroques, parasitas, pérfidos, descarados”. Os detalhes onde ficaram? Alguém se preocupa em explicar clara e minuciosamente como tudo funciona?

Seria interessante também informar que Portugal, com as suas reservas áureas de 382,5 toneladas, excluindo o FMI e BCE, está no 12.º lugar mundial e o quinto país na União Europeia – dados de Agosto 2011.
Já é uma consolação!...