segunda-feira, dezembro 03, 2012

UMA PRIMAVERA EUROPEIA?

“Depois da primavera árabe poderia chegar um Outono, um Inverno ou uma Primavera europeia? As greves das duas últimas semanas foram disso um sinal? Quarenta sindicatos de 23 países proclamaram um “dia de acção e solidariedade”. Os trabalhadores portugueses e espanhóis fecharam as escolas, paralisaram o trânsito e interromperam os transportes aéreos na primeira greve geral coordenada a nível europeu.”

“As políticas rigoristas com as quais a Europa está a responder à crise financeira, desencadeada pelos bancos, são vividas pelos cidadãos como uma enorme injustiça. O saldo das ligeirezas com as quais os bancos pulverizaram somas inimagináveis, no final está a ser pago pela classe média, pelos trabalhadores, pelos pensionistas e, sobretudo, pelas jovens gerações com a moeda sonante da sua juventude”.

Se, de um lado se formasse uma aliança entre os movimentos sociais, as gerações europeias dos desempregados e os sindicatos e, do outro lado, os arquitectos da Europa no Banco Central Europeu, os partidos políticos, os governos nacionais e o Parlamento Europeu, nasceria um movimento possante capaz de impor um imposto sobre as transacções financeiras contra a oposição da economia e a obtusidade dos ortodoxos do Estado nacional.
Portanto, uma primavera europeia?”

O que acabo de transcrever são excertos do que escreveu Ulrich Beck, no artigo “Um Novo vento Une a Europa”, de 25/11/2012 (La Repubblica).

Esta ideia de “primavera europeia” agrada-me, mas por um motivo mais restrito. O ilustre sociólogo alemão sonha a primavera europeia para “uma outra Europa social e democrática”. Mas antes de aí chegar, gostaria que surgisse outra primavera no que concerne, exclusivamente, os actuais líderes dos países europeus.

A União afunda. Não pela crise, pois com inteligência, determinação e sem egoísmos populistas instilados por políticos medíocres e irresponsáveis, tudo já teria sido contornado e resolvido ou no bom caminho de uma solução.

Porém, precisamente quando urge a existência de grandes líderes, de políticos corajosos, sólidos pela força de uma indiscutível competência e clarividência, que vemos? Politicantes sem a preocupação de elevar a dignidade do cargo que ocupam, porque disso não são capazes, e, consequentemente, sem a visão e o rasgo necessários para lutar pela prossecução e conservação do lindo sonho que é uma grande Europa - existem, obviamente, as devidas excepções, mas poucas.

Pensam, quase exclusivamente, em cultivar os interesses nacionais e o próprio eleitorado, incapazes de assimilar que a interdependência leal e solidária dos Estados-membros da União é, em absoluto, uma mais-valia para todos. 

Mas os ventos que varrem este nosso Continente trazem, pelo contrário, mensagens bem mais desconfortantes. Há países que lucram e, consequentemente, ao abrigo de enunciados pomposos, mas vazios, alimentam este estado de coisas; outros, frágeis, apáticos ou subservientes, esqueceram que a dignidade do próprio país deve ser salvaguardada, embora no respeito dos compromissos assumidos e que a União Europeia vale bem uma missa.

A agonia da Europa perdura, mas tergiversa-se, porque também depende dos resultados das próximas eleições na Alemanha. Sem necessidade de entrar numa onda de choque contra as prerrogativas alemãs, é desconcertante a tibieza e ausência de iniciativas responsáveis do resto dos Estados-membros. Tudo isto é razoável? É compreensível?

Não quero terminar sem, mais uma vez, aludir à desgraça do Governo que nos administra e que me preocupa.
Assistimos a decisões que, democraticamente, não tranquilizam. Vemos privatizações cuja utilidade e transparência não convencem. Observamos subalternidades e apoucamento da dignidade do país que envergonham. Verificamos a permanência no poder de um ministro sem credibilidade, moral e política, que escandaliza. Aonde chegaremos?

No momento em que Portugal tanto, mas tanto precisaria de dirigentes de elevada estatura, cabe-nos a desolação de testemunharmos, dia após dia, o que significa e até onde nos pode levar a impreparação e arrogância do Primeiro-Ministro.
Quando políticos deste género alcançam o poder, se enfatuam desta sonhada importância e, portanto, não assimilam que todas as regras democráticas devem ser observadas, respeitadas e que os interesses da coisa pública estão acima de tudo e de todos, o dano para o país é inevitável.
Só espero que não seja irreversível. Mas enquanto dura, pelo menos que alguém ensine a Passos Coelho a arte de comunicar: correcta, objectiva, prudente e respeitosa dos seus concidadãos.

Falam de novas eleições. Não creio sejam oportunas. Bastaria uma remodelação do Governo. No PSD e CDS existem personalidades de bom nível, capacíssimas de tomar as rédeas da governação e conduzir o país com mais segurança e dignidade, embora uma grande coligação fosse aconselhável. Tivéssemos nós um Presidente da República à altura das circunstâncias!... Mas nesta maldita crise, até nisso fomos infelizes.