segunda-feira, fevereiro 04, 2013

O ADMIRADOR DE MUSSOLINI
SAUDOSISTA OU ESPERTALHÃO?

É as duas coisas, este admirador de Mussolini.
A notícia espalhou-se e, mundialmente, ficou a saber-se que Berlusconi – sempre este indivíduo! – no dia justo para uma gafe imperdoável, isto é, o 27 de Janeiro, Dia da Memória do Holocausto, quis testemunhar que Mussolini “também fez coisas boas”.
Com toda a naturalidade do ignorante, a malícia do espertalhão e comprovadas inclinações de extrema-direita - não é a primeira vez que exprime conceitos deste género - eis o que declarou sobre Mussolini:
“É muito difícil pôr-se no lugar de quem, na altura, teve de decidir. O Governo de então, com receio que a potência alemã vencesse, em vez de opor-se, preferiu ser um aliado da Alemanha de Hitler.
Dentro desta aliança houve a imposição da luta e do extermínio dos judeus, logo, o facto das leis raciais é a pior culpa de Mussolini, visto que em tantos outros aspectos tinha actuado bem. A Itália não tem as mesmas responsabilidades da Alemanha”.

Quanta ignorância sobre o “Pacto de Aço” em 1939 e a promulgação das leis raciais fascistas em 1938, citando apenas duas das piores deliberações do regime fascista! Ademais, também não é desconhecido que, na fase inicial, o nacional-socialismo de triste memória se inspirou na ditadura fascista e que o anti-semitismo já imperava na Itália, antes das infames leis raciais de 1938. Mussolini, em seguida, tudo fez para imitar o nazismo.

“É perigoso arriscar ter novamente um chefe de governo tão ignorante; quero esperar que a gente o compreenda” – Pietro Terracina, sobrevivente de Auschwitz.

Como é óbvio, a indignação - claramente manifestada - foi geral, dentro e fora do país. Mas o homem não se descompôs.
“Sobre o fascismo exprimi o que pensa a grande maioria dos italianos, mas ninguém me pode acusar de anti-semitismo: neste país, eu sou o maior amigo de Israel”.
Não me parece que a Israel, com toda a sua gama de inimigos, convenha amigos deste jaez.

Fiquemo-nos por aqui. Isto é já o suficiente para dar a dimensão de um grosseiro e hábil oportunista, que, infelizmente, continua a convulsionar a política italiana. E o que mais me desconcerta é verificar que há tanta gente que ainda vota neste demagogo, o qual tem subido nas sondagens, desenfornadas quase diariamente.  
 Não restam dúvidas, portanto, que as suas qualidades de histrião nacional são um excelente recurso para atrair ignorantes em boa-fé e oportunistas de baixo calibre.
Gente informada, com sensibilidade cívica e culto da honestidade, certamente que jamais votaria um Berlusconi e acólitos.

Alguns comentadores indicaram a sua dissertação sobre as “boas obras de Mussolini” como uma esperteza eleitoral, a fim de captar votos dos muitos saudosistas que, efectivamente, ainda existem.
Se não vencer as próximas eleições legislativas de 24 e 25 deste mês, o homem luta, pelo menos, para obter um resultado que o catapulte em zona onde possa condicionar as decisões políticas e administrativas e, paralelamente, defender-se, com os habituais “legítimos impedimentos”, dos processos que o envolvem: se possível, obter um salvo-conduto permanente.
É já um clássico: “Berlusconi defende-se dos processos e não nos processos”. E quantas manigâncias para driblar esses processos até que chegue a salvífica prescrição!

Um jornalista conhecido, num artigo onde vibram raiva e indignação, escreveu no título: “Berlusconi fora da Europa” – “fora do PPE, esse impenitente admirador de Mussolini”.

A Europa, melhor, a UE foi submersa pelas preocupações e problemas económico-financeiros. A defesa das normas democráticas e os inalienáveis direitos humanos passaram para segundo plano, se é que os não arrumaram no sótão.
Não se compreende, por exemplo, o silêncio ante o que se passa na Hungria e as atitudes absolutamente fascistas do seu presidente Viktor Orbán. Muito menos se compreende que seja um dos vice-presidentes do “Partido Popular Europeu”, o partido da maioria dos actuais dirigentes da União. Estes sentem-se bem com aquela companhia? Se é assim, compreende-se que Berlusconi, como palhaço, sirva como um fait divers.

Esquecia informar que Berlusconi, na Europa, era e é admirado por todos os líderes – segundo a sua opinião, obviamente. E tanto assim:
Eu era a pessoa mais informada e mais bem preparada sobre economia e sobre o mercado; hoje, pelo contrário, só existem burocratas.
Que fazes, Europa? Assumes como fait divers um elemento tão precioso!?