segunda-feira, julho 15, 2013

SITUAÇÃO POLÍTICA:
HAVERÁ ANALISADORES OMISSOS?

Refiro-me ao variegado número de analistas, observadores, comentadores que, nestas duas últimas semanas, inundaram os nossos meios de comunicação. Paralelamente a estes comentadores, na sua maior parte observadores neutrais, também houve, obviamente, as opiniões da classe política, sempre empenhada a demonstrar a sua perícia em contornar os problemas. É característica normal e não surpreende; quero ressalvar, todavia, alguns políticos da velha guarda.

Reformulo a pergunta: ainda haverá por aí alguém que não foi convidado e, portanto, não teve oportunidade de exprimir - com originalidade, sageza, competência e profundo conhecimento das realidades do país - ideias novas que conduzam a soluções ou iniciativas credivelmente praticáveis em todos os sectores da vida nacional em crise? Ideias que os cidadãos possam compreender e assimilar, predispondo-os a aceitá-las, mesmo se exigem renúncias e sacrifícios?

Neste momento de instabilidade governativa, devem efectuar-se eleições ou devemos permanecer à espera de Godot?
Não sou partidária de eleições imediatas. O motivo é mais pessoal que baseado em razões já apontadas por diversos personagens, incluindo a recente mensagem ao país do Presidente da República.
Eis esse motivo: no caso de haver eleições já no próximo Outono, eu não saberia a quem dar o meu voto. Penso e repenso, avalio e torno a avaliar, mas as minhas perplexidades continuam. Isto sucede-me pela primeira vez e, confesso, é desconfortante. Mas aguardemos.

Cultivo uma profunda esperança: que um vírus benigno, identificado como dignidade, atacasse Pedro P. Coelho e este, por incapacidade do exercício de funções, apresentasse a sua demissão de primeiro-ministro do Governo português. Mas lá por aquelas paragens, essa espécie de vírus é inexistente. E a “turbulência no governo português” - assim descrita a situação nos noticiários italianos - paira sobre as nossas cabeças e sem a certeza de ventos que a afastem. Até quando?

Por último, permito-me expor um alvitre: se tivesse oportunidade de falar directamente com António José Seguro, o secretário-geral do PS, e pudesse exprimir-me com uma delicada familiaridade, colheria a ocasião para lhe solicitar tons menos tribunícios ou declamatórios, dando a preferência a uma comunicação mais espontânea e natural.
Quando vejo o ar solene que empresta às suas palavras, imediatamente me vem à ideia uma típica expressão italiana: Parla come mangi – fala como comes.
Não por que use uma linguagem abstrusa ou rebuscada. Simplesmente, é aquela pomposidade, mesmo nos enunciados mais simples, que me desagrada numa pessoa que, em fim de contas, me é simpática.

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Falemos agora de um evento cujo ribombo ultrapassou as fronteiras italianas.
No Governo italiano há uma ministra – Ministra da Integração – oriunda da República Democrática do Congo. É a Dra. Cécile Kyenge, médica oftalmologista, licenciada numa universidade de Roma. Quando, como membro do governo, pela primeira vez se encontrou com a imprensa, asseriu com toda a naturalidade: Eu não sou de cor; eu sou negra e declaro-o com orgulho.

Um senhor da Liga Norte chamado Roberto Calderoli e vice-presidente do Senado, há dias, em comício público, referiu-se à Dra. Cécile Kyenge nestes termos: Consolo-me quando navego na Internet e vejo as fotografias do Governo. Amo os animais, ursos e lobos como já sabem, mas quando vejo as imagens da Kyenge, não posso deixar de pensar, embora não diga que o seja, nas semelhanças com um orangotango.

Vozes indignadas exigiram a sua imediata demissão de vice-presidente do Senado. Mas o digníssimo Calderoli não se descompôs: Foi apenas uma piada simpática. Seria um óptimo ministro… mas no Congo.
Demitir-me? Nem sequer penso nisso.

Não fiquei surpreendida com este triste episódio da mais abjecta grosseria e racismo. É muito comum nos simpatizantes e filiados da Liga Norte. Ademais, a ministra Kyenge já tinha sido vítima de outras apreciações igualmente ultrajantes, mas sempre reagiu com muito civismo.  

Notícias da última hora informam que Calderoli telefonou, pedindo-lhe desculpa. Um acto sem significado. Que se demita e não continue a enxovalhar o Senado da República Italiana.