segunda-feira, julho 01, 2013

TENTEI, VENCI, COMANDO

É mais uma versão do “quero, posso e mando” interpretada pelos modernos candidatos à vida política: sou eleito (imediatamente se instala a ideia de pertença a uma categoria social privilegiada); tento chegar aos cargos executivos; venço as respectivas etapas através do voto, logo, sou eu quem comanda.  
Porém, este sentido de “comando”, praticamente é vetado pelas regras democráticas. Deve esconder-se, mimetizar-se no vocabulário institucional.
Ninguém comanda, que heresia!

O máximo órgão executivo, o Governo, por exemplo, administra, executa as leis emanadas do Parlamento, providencia a fim de que os problemas do país sejam resolvidos, mas tudo com a maior transparência e sempre, sempre explicando e clarificando, honesta e irrefutavelmente, as decisões que exijam sacrifícios ou foram impostas por circunstâncias adversas.
Uma concepção perfeita de governo, mas é respeitada e posta em prática com afã e no melhor modo humanamente possível?

Ninguém é ingénuo até esse ponto. Bem sabemos que nada disto é real. O que vemos diariamente é, antes de mais, o tom arrogante destes eleitos do povo. Falam do alto do poder e a humildade, que é própria da pessoa de elevada formação, simplesmente, não existe.

Assim, e vamos ao caso concreto, vejo um primeiro-ministro inculto e politicamente desastroso a espelhar, na sua infinita impreparação, o que acima pretendo demonstrar: “elegeram-me, comando e não devo dar contas a ninguém”.
Administrar a coisa pública responsável e conscienciosamente? Não sabe o que isso significa, pois nunca o aprendeu: nem na escola da vida e muito menos politicamente.
O homem e o seu governo fazem e desfazem. Enviam mensagens sem qualquer conteúdo que dê esperanças. O país afunda, mas ninguém sabe aonde o querem conduzir.

Tudo isto me veio à ideia, ouvindo uma opinião do Sr. Marques Mendes. Diz este insigne comentador televisivo que o Governo poderá cair pela acção do Tribunal Constitucional e não por qualquer outro motivo. O Governo concluirá que não poderá governar nestas condições e demitir-se-á.

Não sei se entendi bem, mas a que condições se refere? Ainda estamos numa democracia onde a Constituição é guia fundamental e deve ser respeitada e tutelada ou qualquer governo pode ignorá-la a seu bel-prazer? A este ponto se chegou?!

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O inefável Berlusconi foi condenado a sete anos de prisão e interdição perpétuo de exercer cargos públicos. A notícia da sentença foi amplamente difundida. Já se esperava e é apenas mais uma.  
A minha curiosidade, porém, concentrou-se nas reacções dos acólitos.
Eis a mais expressiva, além de muitas outras igualmente aberrantes, sobre o conceito que aquela gente alimenta sobre os divinos eleitos: “Esta sentença é um insulto aos 10 milhões de eleitores que elegeram Berlusconi”.

O homem entrou na política, foi eleito, logo, tornou-se intocável. Por extensão, quem lhe deu o voto é insultado por um qualquer juiz que o condene. Como se atrevem estes juízes “cretinos e incapazes” (expressão da pitonisa dos berlusconistas, Daniela Santanchè) a julgar um eleito por 10 milhões de italianos?

O politicamente correcto levar-me-ia a dizer que respeito as opiniões de qualquer eleitor. Todavia, confesso-me politicamente incorrecta: quem vota Berlusconi não me merece o mínimo respeito, e as razões são óbvias.