segunda-feira, março 03, 2014

E HOJE FALEMOS DE MATTEO RENZI

 Falemos do actual Primeiro-Ministro italiano, o homem que queria mandar para a sucata os eternos barões de uma política bafienta, renovando ideias e efectivando reformas com novas personagens.

Trinta e nove anos atrevidos, presidente da Câmara de Florença, rico de imaginação para se colocar sempre em primeiro plano. Orador brilhante, imbatível quando envia mensagens que agradam a todos. 

Em eleições primárias, com ampla margem de votos, concretizou o sonho a que há muito aspirava: ser eleito secretário do Partido Democrático.
Este era o primeiro passo para a sua grande ambição, isto é, chegar a primeiro-ministro. E chegou. Todavia, o modo como se alcandorou a tal cargo passou ao lado da lealdade e da correcção. Ademais, em oposição ao que anteriormente apregoava, ultrapassou a credencial que mais legitima qualquer governo democrático: o voto dos eleitores.

Incorrecto para com Enrico Letta, chefe do Governo demissionário e seu colega de partido. Menos correcto ainda na total ausência de ética que demonstrou. Foi como se dissesse: “O andamento do Governo está emperrado; tens uma marcha tímida e hesitante; põe-te de lado; eu corro mais veloz, quero o teu cargo e tudo resolverei”.
Omitia que o impasse do Governo Letta, se em parte era devido ao esforço de equilibrar-se dentro da coligação com o partido de centro-direita que lhe garantia apoio no Senado, também era consequência das críticas que Renzi – secretário do seu partido - não se inibia de manifestar publicamente.

Em conclusão, um perfeito florentino descarado. Mas apesar de tudo, não se lhe pode negar coragem. Oxalá saiba fecundar esta coragem com o que de melhor encontre, invente e execute para o bem da Itália.  

A maioria dos italianos, em todas as variantes políticas, repõe grande esperança neste carácter vivaz, peremptório de Matteo Renzi e no Governo que dirige.
Cansada de egoísmos e tacticismos políticos estéreis sem resultados positivos à vista, assustada com uma perseverante situação económica gravíssima e a elevada percentagem de desemprego - 12,9%, a mais alta desde 1977; o desemprego juvenil que atinge 42,4%) – alimenta uma forte esperança que Renzi faça o que deve ser feito, que enfrente os problemas que atenazam a vida económica e social do país e que, finalmente, crie estabilidade política.

“Não somente a maioria dos cidadãos comuns italianos (segundo Luigi La Spina, editorialista do jornal La Stampa), mas também as instituições internacionais que têm todo o interesse em não ver a Itália precipitar numa perigosa estagnação, fonte de contágio para a Europa e de imprevisíveis consequências sobre os equilíbrios financeiros do mundo”.

As múltiplas opiniões dos melhores editorialistas e analistas coincidem. Exprimem muitas dúvidas sobre o real valor político de Matteo Renzi; perplexidades sobre a competência dos membros do Governo. No entanto, todos desejam que alcance o sucesso e a Itália reemerja do pântano em que se vê atolada.
Não se pode deixar de concordar, formulando os mesmos votos, a fim de que o Renzi jovem, que fala muito bem e irradia entusiasmo, embora não garanta certezas de competência, saiba rodear-se de bons, desinteressados e competentíssimos conselheiros.

Sobre a formação e constituição dos membros do Governo, emergiram grandes perplexidades. Não foi feliz na escolha de alguns ministros; desastrada a escolha de certos secretários de Estado, cuja idoneidade ética é muito discutível. 
No que concerne os novos ministros, a não confirmação de Emma Bonino como Ministro dos Negócios Estrangeiros, por exemplo, é incompreensível.
Equilibrismos em coligações políticas, a quanto obrigas!

O juízo da história sobre os condottieri, sejam esses generais, líderes políticos ou militantes revolucionários, quase nunca depende do modo desenvolto como conquistam o poder, mas do uso que dele fazem quando sobem ao poder. Assim será para Matteo Renzi” – Luca Ricolfi – La Stampa , 16/02/2014.

Para a frente, Matteo Renzi! Embora, manhosamente, aproveites o voto dos berlusconistas para as reformas institucionais, só espero que não reabilites a figura de Berlusconi.