segunda-feira, dezembro 22, 2014

SOMOS TODOS EUROPEUS

Parafraseando Barack Obama, surgiu-me a tentação de também acentuar esta identidade que nos acomuna: somos todos europeus. Todos! E todos, sem excepções, contribuíram para que esta Europa se tivesse distinguido como berço da civilização que se expandiu pelos demais continentes; não é retórica, mas realidade. Houve um período no século XX, todavia, em que um destes países europeus caiu na barbárie mais atroz. Mas, repito, foi um período desencadeado por um louco. Houve o bom senso, posteriormente, de perdoar a dívida material pelos desastres causados. 

E como somos todos europeus, como todos temos igual dignidade, sobretudo no que diz respeito à própria soberania de países independentes, espera-se que a czarina Merkel, o seu ministro das Finanças, Wolfgang Schauble, e o insuportável e enfatuado presidente do banco central alemão, Jens Weidmann, desçam do pedestal da arrogância no qual se alcandoraram, deixem de dar lições a quem as não solicita e comportem-se como personalidades às quais se exige diplomacia e respeito. Tudo se pode dizer e por justificados motivos, mas insisto: com diplomacia e respeito.

A minha antipatia cresce sempre que vejo estes personagens a pôr entraves às iniciativas anticrise do Presidente do Banco Central Europeu, ministrando avisos e insistindo no rigor dos “trabalhos de casa” (que expressão estúpida!) dos países que crêem economicamente inferiores, ignorando os péssimos resultados a que conduziu esta doutrina. Cegos pela arrogância ou com visão de horizontes estreitos?

Mas deixemos estas divagações e voltemos à frase exacta que desviou os meus pensamentos: “Somos todos americanos”. Parabéns, Sr. Presidente Obama. Não desista e continue por este caminho.
Aplaudi este entendimento com Raul Castro, esta quebra de hostilidades entre os Estados Unidos e Cuba.  
Restabelecer-se-ão relações diplomáticas, desaparecerá o bloqueio económico, o gigante americano e a maior ilha dos Caraíbas renovarão um bom entendimento social, diplomático, enfim, de bons vizinhos. Acabaram-se os contenciosos. Oxalá!
Obviamente, tudo isto é o que se espera, embora “não possa ser feito da noite para dia”, como bem prognosticou Obama. Alguns primeiros e bons resultados, porém, são já evidentes.

Em primeiro lugar, gostei das reacções de alegria dos cubanos, muito acentuadas na população mais jovem. Por aqui se vê a sensação de gueto em que viviam, e ainda vivem, e a esperança que se lhes apresentou como futuro resgate deste isolamento a que foram constrangidos durante cinquenta e três anos. “Uma prisão ao ar livre”, além do um embargo comercial, económico e financeiro que lhes subtrai todas as condições para uma vida de qualidade normal.
Houve exclamações de “finalmente livres”. Houve danças. “Somos todos americanos” já se tornou canção para animar o bailado.

“O sonho de Cuba é também a Internet para todos” – título de um serviço jornalístico (de Daniele Mastrogiacomo - La República, 21/12/2014) muito elucidativo.
“Hoje, navegar nas redes da Ilha, é árduo. Não somente porque o Governo de Raul Castro abre e fecha as torneiras dos contactos conforme as circunstâncias. É um problema de proibições e infra-estruturas… Internet é cara e não está ao alcance das pessoas… Se pensarmos que, em média, se ganha mensalmente a mesma cifra, 18 euros, é impensável, para um cubano, deitar fora o salário inteiro para uma pequena viagem no WEB.”
Comentário de um grupo de jovens à porta de uma universidade: “Quando se abrirem as fronteiras, abrir-se-á também a Internet e tudo será mais fácil”

Quanto à reacção negativa de muitos membros do Congresso, quer republicanos, quer democratas, não surpreende. Usam argumentos muito próprios de quem não é capaz de alargar horizontes, acreditando na imutabilidade de um statu quo perene: eles são os maus, nós os bons, mantenhamos as sanções; serão abolidas se mudarem de regime e os Castros desaparecerem da circulação.
Muito mais assisada a política de Obama: estendamos a mão, conversemos; o tempo encarregar-se-á de operar as mudanças que o povo cubano espera obter em prosperidade e direitos humanos, e que o “socialismo o muerte” passe a expressão folclorística.

Relativamente à comunidade cubana nos Estados Unidos que também discorda da abertura a Cuba, talvez seja compreensível. É difícil esquecer as agruras de quem teve de fugir de uma ditadura que nada concedia à liberdade e dignidade de cidadãos sem direitos.

E para finalizar, achei divertido que, para já, os Estados Unidos podem importar de Cuba 100 dólares de produtos de tabaco e álcool. O problema é que uma caixa de charutos Havana custa mais de 100 dólares. Têm de se contentar com uns charutos avulsos, caso não funcione o contrabando.