O IMPONDERÁVEL NAS
NOSSAS VIDAS
A enorme tragédia do
voo da Germanwings que se despenhou nos Alpes, o número e nacionalidade das
vítimas, a responsabilidade do co-piloto, os tantos porquês e as tantas
perguntas ainda sem resposta têm sido matéria constante de informação, análises
e discussões. E permanecerá por longo tempo na atenção de todos nós. Tragédia
excessivamente pesada para que o desgaste do tempo a sufoque a breve prazo.
Aliás, penso que servirá como um permanente caso de referência.
Grande parte das
análises incide na imprevisibilidade dos riscos que as nossas vidas enfrentam
em várias circunstâncias e aspectos do viver diário. Ai de nós, portanto, se
damos prioridade ao medo e à desconfiança.
“É a confiança que nos faz viver; é a
confiança que nos faz morrer”. Não se pode deixar de concordar com este
conceito de vida.
Viver é confiar,
diariamente: nos pilotos dos aéreos que nos transportam; nos condutores de
autocarros; nos maquinistas dos comboios, etc., etc..
Há quem aponte a
confiança nos cozinheiros/as, pois também podem trair a nossa normalíssima
confiança, envenenando as delícias que nos servem.
Sabemos bem que o
irracional entra nas imprevisibilidades e, desgraçadamente, não é possível
extirpá-lo da natureza humana.
As perguntas sobre o horripilante
acto irracional do co-piloto Andreas Lubitz são várias e pertinentes.
No meu entender, predominam
duas que, praticamente, envolvem todas as perplexidades.
Primeiro, como é
possível que a Lufthansa não tivesse conhecimento das condições psicofísicas de
Lubitz, quando havia tantos indícios negativos que mereceriam a máxima atenção
e reservas? Como foi possível ter-lhe consignado um cargo de tanta
responsabilidade, quando, paralelamente, apresentava um tirocínio limitado em
horas de voo, factor imprescindível num piloto confiável?
Segundo, por que
razão o médico ou médicos que o assistiam e conhecendo a profissão que exercia
não informaram os responsáveis da companhia aérea sobre a idoneidade psíquica
deste funcionário? No creio que, em casos similares, onde a vida de outras
pessoas dependem, literalmente, da profissionalidade e sanidade mental de um
piloto, devam subsistir sigilos médicos que não possam ser quebrados.
É a segurança de vidas inocentes que o exige.
Atrás, aludo à
irracionalidade humana. Quero falar agora da imbecilidade de certos humanos.
É suficiente um
exemplo. O já conhecido politicastro e fundador do “Movimento 5 Estrelas”, Beppe
Grillo, no seu blogue achou oportuno, mercê de uma fotomontagem, estabelecer analogias entre o co-piloto Adndreas Lubitz e o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi.
Nessa fotomontagem
vemos Matteo Renzi a pilotar um avião da Germanwings.
Grillo escreve: “Há analogias inquietantes entre Andreas Lubitz, o co-piloto do Airbus A320 da Germanwings, que se precipitou nos Alpes
franceses, e Matteo Renzi que está a despenhar a Itália. Trata-se, nos dois
casos, de homens sós nos comandos. Ambos se fecharam dentro, eliminando qualquer
interferência externa (…) Os
passageiros do Airbus só compreenderam no último que o co-piloto os estava
conduzindo para o desastre, depois de oito longos minutos. Também a Itália o
compreenderá no último, quando já não se poderá fazer nada” (…)
As polémicas não se
fizeram esperar, e com inteira razão. Servir-se desta recentíssima catástrofe, onde
perderam a vida, de uma forma atroz, 150 pessoas (crianças, jovens e adultos) para
uso de diatribes de politica barata, ou se é muito imbecil ou se é desprovido
de um mínimo de sensibilidade e bom gosto. Mas penso que, aqui, as duas
características se aliaram.