ERA MELHOR QUANDO SE ESTAVA PIOR?
Mais um ataque terrorista de jihadistas. Desta vez, o
museu do Bardo em Tunes foi a escolha para semear morte e enviar mensagens de
barbárie.
Pensando neste enésimo acto barbárico de pseudopuristas
islâmicos, o meu pensamento dirige-se, inevitavelmente, para a famigerada invasão
do Iraque na era do Sr. George W. Bush, em 2003. Aliás, tal iniciativa sempre
foi contestada, tendo sido demonstrada a falsidade dos motivos que levaram o
Governo americano a essa invasão.
E aqui tudo começou!
Sempre fiquei convencida, e nada me tem dissuadido do
contrário, que esta iniciativa americana, com a colaboração do Reino Unido e
outros Estados, apenas serviu para transformar aquela parte do Médio Oriente num
território fértil para a gestação de caos étnico, religioso, político e social.
Não era necessário ser um profundo conhecedor ou mesmo
especialista em casos similares para prever consequências opostas às
proclamadas pelo Governo americano. Bastava, e basta, seguir coma atenção e
curiosidade o que se passava, e passa, naquela parte do mundo.
Observando tudo o que tem acontecido na Síria e no
Iraque, não é muito ilógico atrevermo-nos a certas deduções. Que nestes
territórios vigoravam regimes brutalmente totalitários, é indubitável. Porém,
não se estaria melhor do que nestas tremendas convulsões que surgiram e que levaram
todas aquelas populações a sofrimentos infindáveis e atrozes, a crimes contra a
humanidade, a extermínio de minorias religiosas, as quais sempre coabitaram
pacificamente com a religião predominante, a muçulmana?
Certamente que não desejo nem quero justificar regimes
ditatoriais. Condeno apenas o modo como tudo se processou e a leviandade como
ponderaram os efeitos sem ter estudado medidas que salvaguardassem o bem-estar
e segurança de todos aqueles cidadãos, fosse qual fosse o sexo, cidadania e religião
praticada.
George W. Bush e conselheiros determinaram a guerra a
Saddam Hussein e invadiram o Iraque, a fim de concretizar aquilo a que se chamou
a “exportação da democracia” – o conceito mais estúpido que mentes humanas
poderiam conceber.
Nessa invasão vencedora, a miopia dos estrategos
americanos conduziu-os a uma série de erros. Um dos mais sérios, e com as
consequências que hoje verificamos, foi a dissolução do exército iraquiano.
Um enviado de guerra, Daniele Mastrogiacomo, bom
conhecedor e testemunha dessas consequências, descreve o motivo por que o
Estado Islâmico não tem sido um adversário fácil de eliminar. Alude aos “generais,
coronéis, majores e capitães” que foram os quadros do exército de Saddam
Hussein e que constituem os guias actuais dos “homens do Califado”.
“Conheci-os nos
meses que seguiram à chegada das tropas a Bagdade, em 2002. Sunitas e
orgulhosos do seu passado tinham perdido o trabalho, o salário e dignidade.
Tinham aceitado a derrota, humilhados também pela fuga dos seus chefes. Pediam
garantias para o futuro. Os americanos tomaram tempo: Não se fiavam dos sunitas
baathistas; demasiado ligados a Saddam; melhor centrar-se nos xiitas. Por fim,
expulsaram-nos do processo de reconstrução.
Via-os, fechados na
sua divisa de militares dignos, a bolsa do trabalho na mão, enquanto
esperavam, na bicha e sob o calor oprimente de verão, receber os 20 dólares de
subsídio, estabelecido pelo então governador americano, Paul Bremer.
Retiraram-se para
as suas povoações e decidiram esperar. Disseram-me: «Pedimos garantias aos
americanos. Queremos recomeçar, compreender se temos um lugar aqui, na nossa
casa».
Usaram-me como mensageiro: «Informe-os que, se dentro de seis meses
não nos darão uma resposta, iniciaremos a resistência». A resposta não chegou e
eles mantiveram a promessa: se houve 3 mil mortos entre os soldados americanos,
também é por causa dos mesmos altos oficiais que, agora, são os melhores guias
dos homens negros do Califado”.
Dissolvendo o exército, condenando os seus membros,
assim como às respectivas famílias, a uma inevitável falta de meios de subsistência, que
esperavam?
Relativamente à Síria, quantos erros, no Ocidente, na
avaliação e apoio aos opositores de Bashar al-Assad! A um certo ponto, perderam
de vista os verdadeiros opositores, não souberam criar elos de possíveis
entendimentos entre estes e o regime de al-Assad, isolando os jihadistas
estrangeiros, portadores das piores violências e provocadores do caos que
impera naquele país. O número de mortos ascende a 240 mil; os refugiados e
desalojados contam-se aos milhões.
Não sei onde reina a pior tragédia: se na Síria, se no
Iraque. Pobres habitantes, gente inocente que não vê auroras de alívio para
tanto mal que não procuraram.
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