segunda-feira, abril 13, 2015

“PRIMEIRO GENOCÍDIO DO SÉCULO XX”
E A TURQUIA CONTINUA A NEGAR A REALIDADE

E explodiu a polémica! Sempre que se alude ao genocídio arménio, as autoridades turcas reagem encolerizadas; o termo “genocídio” não tem legitimidade no vocabulário turco se referido à tragédia arménia. Aliás, nesse contexto, usar a palavra genocídio constitui crime para qualquer cidadão turco.
Em boa verdade, criminoso é esse negacionismo insistente da Turquia, quando uma maior honestidade, em relação ao que verdadeiramente sucedeu de 1915 a 1917/18, só dignificaria aquele país.

Em 1915, precisamente há um século, começaram as perseguições e massacres da minoria cristão arménia pelo Império Otomano.
Durou três anos a execução deste “primeiro genocídio do século vinte”.

Na missa de ontem dedicada à Religião Apostólica Arménia, Papa Francisco repetiu o que o papa João Paulo II dissera em 2001: “A nossa humanidade viveu, no século passado, três grandes tragédias: a primeira, que geralmente é considerada como o primeiro genocídio do século XX, atingiu o vosso povo arménio, a primeira nação cristã (…)”. 
Referiu-se, em seguida, às outras duas que “foram perpetradas pelo nazismo e pelo estalinismo. E mais recentemente, outros extermínios de massa como os da Camboja, Ruanda, Burundi e na Bósnia. Parece, todavia, que a humanidade não consiga pôr fim ao derramamento de sangue inocente.
Recordá-las é necessário, ou antes, é um dever, porque onde não subsiste a memória, isso significa que o mal mantém ainda a ferida aberta. Ora esconder ou negar o mal é como deixar uma ferida a sangrar sem medicá-la”.  

Não se fez esperar a forte reacção da Turquia. Convocou o seu embaixador no Vaticano, classificando as palavras de Papa Francisco como “longe da realidade histórica e não se podem aceitar”. E segundo o ministro da Administração Interna, Mevlut Cavusoglu: “As palavras do Papa são uma inaceitável instrumentalização política. As declarações religiosas não devem alimentar o ressentimento e o ódio com asserções sem fundamento”.

Sem fundamento? “A tragédia do povo arménio, no que então era o Império Otomano, teve início na noite entre o dia 24 e 25 de Abril de 1915, quando se efectuaram as primeiras prisões de famílias arménias mais em vista na cidade de Constantinopla. Num único mês, mais de mil intelectuais arménios, entre jornalistas, escritores, poetas e mesmo parlamentares foram deportados para o interior da Anatólia e massacrados ao longo do caminho”.

Uma lei especial autorizou a deportação de todos os grupos suspeitos “por motivos de segurança interna”. Porém, os motivos eram bem diversos. Motivos económicos, visto que as zonas arménias eram mais prósperas que as do turcomanos. Motivos políticos e étnicos, pois tratava-se de criar um império monolítico e os arménios não tinham ali lugar. Motivos religiosos, pela razão anterior.

As populações arménias tiveram de abandonar as próprias casas e haveres e foram empurradas para a «marcha da morte», forçadas a caminhar nos desertos da Mesopotâmia. Milhares de pessoas morreram de fome, cansaço e maus tratos. Outros milhares foram vítimas de todo o tipo de perseguições e extermínio.

As caminhadas da morte foram organizadas com a “supervisão de oficiais do exército alemão em coligação com o exército turco”.
Pelo que se vê, os oficiais alemães já faziam um exemplar tirocínio para o que, passados poucos anos, seria o segundo e pior genocídio do século XX.
E assim sucumbiram um milhão e meio de arménios.

“A Turquia admite que foram cometidos massacres e que muitos arménios perderam a vida durante as deportações. Mas, segundo Ancara, tratou-se de repressão contra uma população que colaborava com a Rússia czarista” e as vítimas, sempre segundo as autoridades turcas, situam-se entre 250.000 a 500 mil.

O povo arménio e a generalidade dos históricos confirmam que nos três anos de perseguição sucumbiram um milhão e meio de pessoas. Este genocídio foi reconhecido em 1985 pela subcomissão dos direitos humanos da ONU e em 1987 pelo Parlamento Europeu.
“Oficialmente, o genocídio arménio foi reconhecido, mais ou menos explicitamente, pelas assembleias parlamentares de 22 nações, entre as quais Rússia, França, Itália, Alemanha, Canadá e Argentina”.

Relativamente ao comentário do Ministro da Administração Interna turco, acima citado, o Papa, esta manhã, deu uma resposta indirecta: “O caminho da Igreja é o da franqueza: dizer as coisas, com liberdade”.