“PRIMEIRO GENOCÍDIO DO
SÉCULO XX”
E A TURQUIA CONTINUA
A NEGAR A REALIDADE
E explodiu a
polémica! Sempre que se alude ao genocídio arménio, as autoridades turcas
reagem encolerizadas; o termo “genocídio” não tem legitimidade no vocabulário
turco se referido à tragédia arménia. Aliás, nesse contexto, usar a palavra
genocídio constitui crime para qualquer cidadão turco.
Em boa verdade,
criminoso é esse negacionismo insistente da Turquia, quando uma maior
honestidade, em relação ao que verdadeiramente sucedeu de 1915 a 1917/18, só
dignificaria aquele país.
Em 1915, precisamente
há um século, começaram as perseguições e massacres da minoria cristão arménia
pelo Império Otomano.
Durou três anos a
execução deste “primeiro genocídio do século
vinte”.
Na missa de ontem
dedicada à Religião Apostólica Arménia, Papa Francisco repetiu o que o papa
João Paulo II dissera em 2001: “A nossa
humanidade viveu, no século passado, três grandes tragédias: a primeira, que
geralmente é considerada como o primeiro genocídio do século XX, atingiu o
vosso povo arménio, a primeira nação cristã (…)”.
Referiu-se, em seguida, às
outras duas que “foram perpetradas pelo
nazismo e pelo estalinismo. E mais recentemente, outros extermínios de massa
como os da Camboja, Ruanda, Burundi e na Bósnia. Parece, todavia, que a
humanidade não consiga pôr fim ao derramamento de sangue inocente.
“Recordá-las é necessário, ou antes, é um dever, porque onde não subsiste
a memória, isso significa que o mal mantém ainda a ferida aberta. Ora esconder
ou negar o mal é como deixar uma ferida a sangrar sem medicá-la”.
Não se fez esperar a
forte reacção da Turquia. Convocou o seu embaixador no Vaticano, classificando
as palavras de Papa Francisco como “longe da realidade histórica e não se podem
aceitar”. E segundo o ministro da Administração Interna, Mevlut Cavusoglu: “As palavras do Papa são uma inaceitável
instrumentalização política. As declarações religiosas não devem alimentar o
ressentimento e o ódio com asserções sem fundamento”.
Sem fundamento? “A
tragédia do povo arménio, no que então era o Império Otomano, teve início na
noite entre o dia 24 e 25 de Abril de 1915, quando se efectuaram as primeiras
prisões de famílias arménias mais em vista na cidade de Constantinopla. Num
único mês, mais de mil intelectuais arménios, entre jornalistas, escritores,
poetas e mesmo parlamentares foram deportados para o interior da Anatólia e
massacrados ao longo do caminho”.
Uma lei especial
autorizou a deportação de todos os grupos suspeitos “por motivos de segurança
interna”. Porém, os motivos eram bem diversos. Motivos económicos, visto que as
zonas arménias eram mais prósperas que as do turcomanos. Motivos políticos e
étnicos, pois tratava-se de criar um império monolítico e os arménios não
tinham ali lugar. Motivos religiosos, pela razão anterior.
As populações
arménias tiveram de abandonar as próprias casas e haveres e foram empurradas
para a «marcha da morte», forçadas a caminhar nos desertos da Mesopotâmia.
Milhares de pessoas morreram de fome, cansaço e maus tratos. Outros milhares foram
vítimas de todo o tipo de perseguições e extermínio.
As caminhadas da morte
foram organizadas com a “supervisão de oficiais do exército alemão em coligação
com o exército turco”.
Pelo que se vê, os oficiais
alemães já faziam um exemplar tirocínio para o que, passados poucos anos, seria
o segundo e pior genocídio do século XX.
E assim sucumbiram um
milhão e meio de arménios.
“A Turquia admite que
foram cometidos massacres e que muitos arménios perderam a vida durante as
deportações. Mas, segundo Ancara, tratou-se de repressão contra uma população
que colaborava com a Rússia czarista” e as vítimas, sempre segundo as
autoridades turcas, situam-se entre 250.000 a 500 mil.
O povo arménio e a
generalidade dos históricos confirmam que nos três anos de perseguição
sucumbiram um milhão e meio de pessoas. Este genocídio foi reconhecido em 1985
pela subcomissão dos direitos humanos da ONU e em 1987 pelo Parlamento Europeu.
“Oficialmente, o
genocídio arménio foi reconhecido, mais ou menos explicitamente, pelas
assembleias parlamentares de 22 nações, entre as quais Rússia, França, Itália,
Alemanha, Canadá e Argentina”.
Relativamente ao
comentário do Ministro da Administração Interna turco, acima citado, o Papa,
esta manhã, deu uma resposta indirecta: “O caminho da Igreja é o da franqueza:
dizer as coisas, com liberdade”.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home