segunda-feira, dezembro 07, 2015

FESTIVIDADES DE NATAL ABOLIDAS
SERÃO ESTAS INICIATIVAS OPORTUNAS?

Não só oportunas, mas também serão justas? Expliquemos o motivo destas perplexidades.
Como reacção ao atentado parisiense e outros casos de terrorismo islâmico, vários institutos de ensino italianos decidiram anular ou alterar as festividades natalícias.

Um exemplo que bem caracteriza estas originalidades:
 Em Rozzano, município da Cidade Metropolitana de Milão, o director de uma escola primária decidiu anular o tradicional concerto de Natal. Adiou-o para 21 de Janeiro, intitulando-o “Concerto de Inverno”, e substituindo os cânticos de Natal por canções absolutamente laicas.
O tradicionalíssimo cântico “Tu desces das estrelas” (Tu scendi dalle stelle) e outros similares não deveriam ser executados, a fim de não ofender os 20% de alunos que não eram cristãos.

Rebentou o escândalo e as polémicas não se fizeram esperar. Pais e alunos protestaram, várias entidades oficiais manifestaram indignação, a imprensa não foi benévola. Porém, o director escolar mostrou-se irremovível na sua decisão e afirmou: “Um concerto de cânticos religiosos no Natal, depois do que aconteceu em Paris, teria sido uma provocação perigosa”. Mas teve de capitular: demitiu-se.
O mais interessante é que muitos pais de alunos muçulmanos daquela escola também se indignaram contra o director, pois não viam qualquer razão para que as festas de Natal sofressem alterações. Os filhos sempre se sentiram felizes em participar e nada os chocava na própria fé. Aliás, o Islão considera Jesus um seu profeta.

Como inevitável, surgiu o aproveitamento deste facto, na forma mais antipática. Os extremistas da direita, os populistas na sua pior faceta e os xenófobos imediatamente se assenhorearam do acontecido e logo demonstraram o mau gosto e o latente racismo que lhes é próprio. Juntaram-se em frente da escola de Rozzano, ostentando presépios de mistura com slogans de pura xenofobia.

Este é um dos vários casos. Outros surgiram (cerca de uma dezena, pelo que li) idênticos na sua motivação. Pelos vistos, nasceu a moda, neste Natal 2015, arredar tudo o que simbolize uma época de alegria para crentes e não crentes, mas, sobretudo, para as crianças.

Estas atitudes, a que prefiro chamar “originalidades”, não serão uma descabida demonstração de ignorância e um ocultamento do que nos identifica? Devemos “ter medo de dizer quem somos”? Inaceitável.

Em segundo lugar, estes gestos são oportunos e legitimamente aceites, ante a barbárie de terroristas que se proclamam islâmicos e que assolam o mundo ocidental? Não constituirão, para esses fanáticos violentos, motivo de regozijo e ainda maior arrogância na prossecução de outras tragédias?

Os senhores professores ou directores escolares que reflictam bem sobre tais iniciativas e procurem, antes de mais, informar os próprios alunos sobre a fé na qual foram educados e o credo dos colegas que não são católicos.

Aprendamos a conhecermo-nos, e sempre mais convicto será o respeito por credos diferentes cuja história e caminho percorrido deixarão de ser por nós ignorados. Saber, conhecer, reflectir é o modo fundamental para expulsarmos preconceitos e mantermos firmes a consciência da nossa identidade dentro da civilização europeia; só deste modo saberemos interpretar correcta e adequadamente a de outrem.

Termino com as palavras de Rifat Aripen, “originário do Bangladeche e coordenador das associações islâmicas no Lácio, Itália”.
O Natal é mais o símbolo de uma civilização do que de uma religião. Na Itália e na Europa, a civilização cristã tem raízes profundas que devem ser respeitadas; negá-las significa não conhecer a história e fechar os olhos perante a realidade.
O Natal também é símbolo para um agnóstico e os símbolos não prejudicam ninguém.
Um homem é um homem antes de ser muçulmano, cristão ou judeu. Ninguém de mente sã o ignora. E condenar o massacre de Paris é um dever absoluto de todo o ser humano”.  -  La Stampa, 29 / 11 / 2015 – Giacomo Galeazzi.