segunda-feira, fevereiro 15, 2016

SUBMETIDOS ÀS AGÊNCIAS 
INFORMADOS COM ANGLICISMOS

A maioria dos leitores das páginas económicas ou de análises de carácter financeiro, nos vários quotidianos, frequentemente não compreende siglas e expressões técnicas que sempre se apresentam escritas em inglês. Logo, imperam os bail in, bail out, stress teste, default, eurobonds, etc., etc..

Por vezes, há o cuidado de, entre parênteses, os explicar. Porém, por que não encontrar uma tradução fiel, dentro do contexto, com palavras, locuções, expressões da própria língua, de maneira que todos compreendamos, imediata e claramente, quais os fenómenos financeiros e económicos que envolvem os nossos países? Mas não somente o país, pois é mais que necessária uma clara informação sobre actividades bancárias. 

Esta sujeição às expressões inglesas é generalizado e expandiu-se pelas demais línguas. Mas usemos o neologismo de moda: tornou-se viral.

A “Accademia della Crusca” (A Academia do Farelo), “o centro mais importante de investigação científica dedicado ao estudo e promoção da língua italiana, reprovou estes termos técnicos e aconselhou os operadores financeiros e jornalistas a usar locuções italianas”.
Dada a importância desta academia, creio que os interessados seguirão o conselho.

O valor da “Accademia della Crusca” é de grande importância para o idioma italiano. Foi fundada no século XVI por um grupo de amigos que pensaram atribuir ao termo farelo (tradução de Crusca) um novo significado. A Academia, simbolicamente, dedicava-se a separar a flor de farinha (a boa língua) do farelo, “segundo o modelo de língua que previa o primado do vulgar florentino, modelado sobre os autores do séc. XIII”.

A história da "Crusca" (forma como frequentemente é citada)  é muito, mas muito interessante e que adiarei para um outro poste. Entretanto, mudemos de assunto.

Há normas da União Europeia que eu não compreendo e tenho dificuldade em aceitar. Uma das mais estúpidas é a condição que obriga o Banco Central Europeu depender dos votos de fiabilidade das agências de notação financeira como garantia para comprar títulos de dívida pública dos Estados-membros, no mercado secundário.

Portugal, neste momento difícil, com uma dívida pública muito elevada, olha com ansiedade para a agência canadiana DBRS, qual entidade assertiva da classificação de fiabilidade da sua dívida pública. Como Estado-membro, não bastam os exames a que são submetidos, pela Comissão Europeia e quejandos, o Orçamento de Estado, o défice e a dívida soberana?
É admissível que os níveis de risco das dívidas de um Estado soberano estejam à mercê das agências de rating, como se se tratasse de uma qualquer entidade privada, mesmo importante, e não envolvesse o presente e o futuro da totalidade dos cidadãos desse Estado e o poder legal e administrativo que dele emana?

Dentro das instituições financeiras e económicas da União, não haverá departamentos com alta competitividade técnica para avaliações dos riscos de crédito similares às das agências e fornecer uma análise neutra e de carácter oficial?
Acaso algumas agências têm demonstrado, sempre, equidistância entre a avaliação de risco financeiro de certas empresas e os respectivos votos emitidos? Os factos provaram que essa equidistância nem sempre existe, pois houve falências onde a notação mais alta, “triplo A”, tinha sido generosamente atribuída. 
Sobre este tema, tinha anotado as respectivas críticas e comentários sobre as falências de Enron, Worldcom, Lehman Brothers. Mas quantas outras haverá idênticas, mas que não provocaram o mesmo estrondo?  
   
Posto isto, não será discutível ver as dividas de um Estados soberano submetidas a avaliações de risco pelas famosas agências? Creio que também este facto tem sido posto em causa pelos estudiosos da matéria.
Porém, urbi et orbi a finança comanda em regime totalitário e a classe política obedece.
Estou plenamente de acordo com a Sra. Teresa de Sousa, jornalista, quando escreve sobre a subida das taxas de juro: "Do lixo financeiro ao lixo político" - Público, 14/02/2016.
"Desculpem, portanto, a insistência, mas o meu medo é que, do "lixo financeiro" a que as agências nos condenaram, passemos rapidamente ao "lixo político, esse sim com um alto risco de rebentar de vez com a Europa".