segunda-feira, março 14, 2016

ÉTICA, ONDE ESTÁS?

Tornou-se numa raridade? Ou, esquecida, a ética sentou-se na cátedra que lhe pertence, a cátedra das consciências e comportamentos límpidos, olhando o mundo com circunspecção, mas sempre pronta a conduzir quem dela não quer e não pode separar-se? Neste caso, então, mudemos de título: Consciências e comportamentos límpidos, onde estais?

Pergunta muito oportuna e, nos tempos que correm, não é necessário procurar respostas: estas impõem-se. Que o diga a Ex.ma Senhora Maria Luís Albuquerque, ex-secretária de Estado do Tesouro e das Finanças, ex-ministra das Finanças; hoje, membro da Assembleia da República e, paralelamente, administradora não executiva da Arrow Global, a empresa que se ocupa de questões financeiras, especialista em créditos malparados, tutelada, até há cerca de três meses, pela Ex.ma Maria Luís Albuquerque, quando ministra das Finanças.

Portugal, segundo rezam as crónicas, constitui um terreno bastante fértil para a actividade da Arrow Global. Aliás, adquiriu duas empresas portuguesas, Whitestar e Gesphone, e sente-se como o peixe na água.

Enquanto deputada do Parlamento português que teve cargos de topo nas Finanças e no tesouro do sector público português, Maria Luís vai trazer-nos uma riqueza de experiência na gestão de dívida e vai complementar a actual experiência da administração e a expansão da Arrow Global para novos mercados geográficos e para novas classes de activos”. – Assim se exprime Jonathan Bloomer, presidente do conselho de administração da Arrow Global.

A partir das primeiras dez palavras desta explicitação do Sr. Bloomer, as deduções amplificam-se e não creio que entrem no campo da benevolência.
 
Mas, como atrás refiro, este assunto, em todos os seus referentes, tem sido abundantemente esclarecido e bem dissecado pelos órgãos de informação. Ainda bem! Oxalá que a comunidade portuguesa dê a máxima atenção a este e outros eventos similares. É a indiferença ou o encolher de ombros que encorajam a desprezo da decência; neste caso, tal desprezo concretiza-se claramente.

Além das prováveis incompatibilidades ou até mesmo conflito de interesses, o que mais atraiu a minha atenção, e me indignou, foi a naturalidade como uma pessoa com a cultura e preparação académica de Maria Luís Albuquerque, demonstra um alheamento total da ética.

Se ao menos tivesse a decência de demitir-se do seu lugar de deputada da Assembleia da República!
Mas viva o prestígio do cargo de administradora não executiva da Arrow Global e consequente valor económico. Obviamente, será acumulativo com outras remunerações da função pública; o resto é bugigangaria.

Todos clamam pelo famigerado “período de nojo”. Efectivamente, torna-se urgentíssimo legislar sobre esse tema, estabelecendo uma boa margem de anos. Se assim não for, quem sofre e sofrerá de um grande período de nojo, de asco, é a sociedade civil portuguesa.