segunda-feira, junho 20, 2016

AS INCONGRUÊNCIAS DA EUROPA DESUNIDA

Europa desunida ou uma União Europeia com tendências totalitárias? Compreendemos perfeitamente que as regras existem, foram formuladas para serem cumpridas na íntegra. Então pergunta-se: cumpridas por todos os Estados-membros? Ou, severa e exclusivamente aplicáveis a países menos iguais? Onde encontrar, então, os princípios fulcrais, inerentes a razões mais nobres, que inspiraram os fundadores desta União?

A este ponto, que significado deveremos atribuir ao termo “União”? Puro eufemismo para iludir quem acredita na Europa?

Quanto me impressiona o afã do actual Governo português na procura de compreensão e benevolência, relativamente às sanções contra o incumprimento português do “défice 3% 2015”!

É assim tão grave se este fatídico 3% não foi excessivamente ultrapassado, numa medida que deveria ser compreendida e aceitável, dentro das circunstâncias que a motivaram?
Não conta o facto de os governos portugueses se terem esforçado por corrigir e aperfeiçoar as normas do Pacto Orçamental, submetendo-se a uma austeridade que, hoje, é geralmente considerada como uma imposição inoportuna, estúpida e danosa?
Passa inobservado que o Governo português despenda todos os esforços, a fim de equilibrar o Orçamento, dentro das normas estabelecidas?

Certos indivíduos da Comissão Europeia, morbidamente apegados ao rigor das regras, têm alguma noção das consequências destas sanções numa economia que tenta prosseguir, arfando, numa direcção justa e profícua? Nem os problemas sociais do desemprego, por exemplo, lhes sugerem que, antes de ditarem sentenças, meditem sobre os cargos de grande responsabilidade e bom senso que ocupam? Que este bom senso é paralelo à flexibilidade, quando esta deve ser considerada oportuna?
Autoritarismos ou, muito simplesmente, arrogância, fruto de incompetências e insensibilidades? Assim parece.

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“A Organização médico-humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou hoje (17/06/2016), a nível internacional, que não continuará a aceitar fundos provindos da União Europeia e dos seus Estados-membros, em oposição às suas políticas danosas de dissuasão sobre migrações e às tentativas, sempre mais acentuadas, de afastar as pessoas e os seus sofrimentos das fronteiras europeias. Esta decisão terá efeito imediato e aplicar-se-á aos projectos de MSF em todo o mundo”.

“O acordo da União Europeia com a Turquia é desastroso”. Durante meses, MSF denunciou a resposta vergonhosa da União Europeia, concentrada na dissuasão em vez da necessidade de fornecer às pessoas a assistência e protecção que tanto necessitam. O acordo UE –Turquia é um passo em frente nesta direcção e pôs mesmo em perigo o conceito de “refugiado” e a protecção que oferece.
Tudo o que a Europa tem para oferecer aos refugiados é constringi-los a ficar nos países dos quais procuram, desesperadamente, fugir? Mais uma vez, o objectivo principal da Europa não é proteger as pessoas, mas mantê-las longe, e da maneira mais eficaz”. - – Jerome Oberreit, secretário-geral internacional de MSF.

E viva a civilizadíssima União Europeia! Porém, em tudo isto, Portugal, este país da periferia, mas sem as “peneiras” (passe um vocábulo dos meus tempos de estudante) de certos Estados-membros oportunamente murados, tem dado lições de humanidade, e sem alardes.