terça-feira, julho 12, 2016

A AUSTERILÂNDIA

O novo führer da UE, sobretudo no que concerne questões orçamentais: "Obecei ao que eu digo, mas não olheis para o que nós, alemães, fazemos"

Austerilândia: onde existirá esta localidade, este país? O primeiro pensamento, todavia, voa para uma região continental que abrange 28/27 Estados soberanos (todos soberanos?) a que chamam Estados-membros da União Europeia.

Lendo com mais atenção o texto escrito por Maurizio Ricci, no jornal “La Repubblica” de 09/07/2016, parece que a Austerilândia situa-se em território alemão. Que novidade!...
Quando acho interessante a leitura de um editorial, por vezes agrada-me traduzi-lo e transcrevê-lo neste blogue. Vejamos a que propósito surge o neologismo “Austerilândia”.

OS ECONOMISTAS BCE AOS GOVERNOS: ABRI OS CORDÕES À BOLSA.”
Estais convencidos que a austeridade estrangulou a economia europeia muito mais de quanto Berlim e Bruxelas estejam dispostos a admitir?
Que um cartãozinho vermelho da UE aos défices de Orçamento de Madrid e Lisboa seja uma forma masoquista de autolesão?     
Que os erros de contagem sobre a Grécia não seja um facto excepcional?
Que chegou o momento de reanimar a moribunda economia europeia com potentes incentivos fiscais a consumos e investimentos?
Não sois os únicos: O Banco Central Europeu diz o mesmo.

Na realidade, muitos destes argumentos são defendidos pelo Fundo Monetário Internacional (ou, pelo menos, o seu departamento de estudos).
Neste caso, porém, a advertência não provém da remota Washington, mas do coração da Austerilândia alemã: de Francoforte, onde o BCE de Draghi começa a assemelhar-se a uma patrulha de heréticos assediados em território hostil.
Com efeito, precisamente como nos tempos da inquisição, a heresia é posta a circular à luz do sol (no caso específico, a homepage do BCE), mas sepultada sob gráficos e fórmulas matemáticas, e proposta dentro de um debate que mais exotérico não poderia ser: a discussão sobre o «output gap», o equivalente económico do sexo dos anjos.

O output gap, na verdade, não existe no estado natural, não se pode ver, não se pode medir e nem todos estão de acordo sobre o que seja exactamente. Marek Jarocinski e Michele Lenza, no artigo do último número do Boletim BCE, explicam que, em linha de princípio, corresponde ao desvio da actividade económica (real) do seu potencial (presumível). As complicações vêm imediatamente depois. Porque em período de economia débil, um output gap grande em absoluto, porque a economia parou, reclama incentivos á procura; mas se o problema é, pelo contrário, que o potencial da economia cresce mito lentamente, são necessárias reformas estruturais que a relancem.

Em conclusão, a situação é sempre  mesma desde a crise de 2009: o estímulo fiscal de Obama ou as reformas de estrutura com a etiqueta Schäuble? Obama, aconselham os dois investigadores do BCE, embora estejam bem atentos a não dizê-lo em voz alta.

(…) A crise custou á economia europeia, somente em 2014 e 2015, um output gap de 6% (…) Uma travagem assustadora que subverte as avaliações oficiais, limitadas, para os últimos dois anos, a 2 - 3%. Deduz-se que a economia europeia não somente estacionou, mas vai a pique.
De qualquer maneira, como dizem os dois investigadores, significa que mesmo as estimas oficiais «subavaliaram a amplidão do afrouxamento económico da zona euro» 

(…) O output gap é demasiado amplo, a economia real deve ser relançada e «políticas directas a estimular a procura agregada (via monetário e de orçamento) deveriam ter um papel ainda mais importante no mix da política económica».
É uma absolvição do Quantitative Easing (QE), lançado pelo Banco Central Europeu com a aquisição de títulos públicos, mas também claro convite aos governos singulares para abrir os cordões á bolsa, a fim de estimular a economia.” Maurizio Ricci; La Repubblica – 09/07/2016