segunda-feira, setembro 05, 2016

E A TERRA CONTINUA A TREMER!

Mensagem que Andrea, bombeiro, depôs no féretro da pequena Giulia

Ao incomensurável susto da primeira arremetida destruidora do terramoto das regiões Lácio, Umbria Marche, no centro de Itália, da madrugada de 24 de Agosto até hoje, a terra não se acalma e o pavor, para os sobreviventes das zonas atingidas e habitantes das localidades próximas, tornou-se contínuo.

Tenho seguido com atenção reportagens e notícias provindas de Amatrice, Accúmoli e as demais cidades devastadas. Paralelamente ao horror, os actos de grande solidariedade e o trabalho incansável de todos aqueles socorristas, bombeiros e agentes da protecção civil que tudo tem feito para salvar vidas e afastar perigos, são comoventes.

Escavar horas e horas nos escombros para resgatar seres humanos: alguns já cadáveres; outros, felizmente, ainda com vida.
É admirável o carinho como estes profissionais reagem ante os efeitos dos seus esforços; esforços que não deixam de ser perigosos, mas que os não afastam nem fazem desanimar. São profissionais bem preparados, mas, sobretudo, dotados de muita humanidade.
Até no salvamento de animais, o que também me emociona, não diminui a satisfação que sempre manifestam pelos resultados obtidos.

Mas não quero perder-me em mais considerações que, em fim de contas, tornam-se óbvias.

Houve imagens que foram classificadas como ícones do terramoto. Talvez o exemplo mais conhecido seja o caso de Georgia, uma menina de 4 anos, salva pela irmã mais velha, Giulia, de 10 anos. É a este exemplo que desejo dar atenção especial.

Após 16 horas de escavação entre os escombros, encontraram Giulia em posição protectiva, fazendo de escudo à irmãzinha.
Giulia foi encontrada já sem vida; a pequenina Giorgia ainda respirava. Foi uma alegria quando os seus salvadores emergiram com a menina, viva, ao colo. A fotografia deste acontecimento correu mundo.

No primeiro funeral das vítimas, em Ascoli Piceno, um dos bombeiros que cooperou no salvamento das duas crianças, enternecido, instintivamente escreveu e deixou uma mensagem que depôs no caixão de Giulia. Traduzo-a, procurando interpretar, na nossa língua, toda a ternura que exprime.

Olá, pequenina, apenas dei uma ajuda para tirar-te fora daquela prisão de escombros. Desculpa se chegámos tarde. Infelizmente, já não respiravas, mas quero que saibas, lá de cima, que fizemos tudo quanto foi possível para tirar-vos fora dali.
Quando regressar à minha casa em Acquila, saberei que me verás do céu e, de noite, serás uma estrela luminosa. Adeus, Giulia. Embora nunca me tivesses conhecido, quero-te mito bem.
Andrea”.