segunda-feira, outubro 24, 2016

AS CONTRADIÇÕES DA UNESCO

Esplanada das Mesquitas e Muro das Lamentações 

Chamemos-lhe contradições em vez de decisões facciosas da UNESCO. Que me seja perdoado o termo “facciosa”, mas é muito difícil conciliar a UNESCO - (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) - com a recente resolução sobre Jerusalém.

Esta organização tem o nobre objectivo de “contribuir para a paz, segurança e cultura no mundo”. Conhece perfeitamente o amontoado de pólvora que permanece naquela zona do Médio Oriente, sempre em ponto de explosão ao menor pretexto. Por qual motivo aprovou uma resolução “com o fim de tutelar o património cultural da Palestina”, usando sempre a terminologia árabe para designar lugares denominados em modos diferentes por árabes e judeus?
O “Muro das Lamentações” não tem a mesma sacralidade para judeus como a “Esplanada das Mesquitas” tem para os muçulmanos? E os cristãos, onde os colocamos?

Embora, no parágrafo três da resolução, tivessem citado a importância da Velha Cidade de Jerusalém com muros sagrados das três religiões monoteístas, a direcção executiva da UNESCO, antes da decisão final, deveria ter prestado mais atenção às palavras da directora, Irina Bokova, que, não concordando, exprimiu as suas razões:

“Jerusalém, mais do que qualquer outro lugar, é espaço de património e tradições compartilhado por judeus, cristãos e muçulmanos. A sua herança é indivisível e cada uma das suas comunidades tem o direito ao reconhecimento explícito da própria história e á relação com a cidade. Negar, esconder ou eliminar qualquer tradição hebraica, cristã ou muçulmana mina a integridade do sítio e contrasta com as razões que têm justificado a sua inscrição na lista de Património Mundial da UNESCO”.
Mais claro do que estas palavras seria redundância.

Israel indignou-se, protestou e abandonou a UNESCO. Nesta controvérsia tem absoluta razão. Todavia, relativamente a este assunto, surgem outras considerações.
Em primeiro lugar, entendo que Jerusalém, precisamente porque é Jerusalém, não deveria ser capital de qualquer Estado: quer de Israel, quer da Palestina, as duas comunidades em causa.

Em segundo lugar, o Estado israeliano deveria ser rigorosamente vigilante e inculcar bem nos partidos de direita, nos ultra-ortodoxos ou quaisquer outros fanáticos o respeito pelos muçulmanos, sobretudo quando vão orar na “Esplanada das Mesquitas”, bem sabendo que estas devoções hebraicas, naquele local sagrado para os islamitas, constituem uma inaceitável atitude provocatória.

Recorde-se a famosa passeata de Ariel Sharon (parlamentar da direita conservadora de Israel) na Esplanada das Mesquitas, em Setembro de 2000, e as revoltas palestinianas que daí resultaram: uma segunda intifada que se alongou até 2005.
Recordemos também que para os países árabes tudo serve para adquirir posições extremas, explorando todos os símbolos que fomentem os extremistas  e alimentem o contencioso com Israel.

Em questões desta natureza, o bom senso, a ponderação e o equilíbrio são bens inacessíveis; para atingir uma paz consistente, concordância e solidariedade são conceitos proibidos. Taras das comunidades humanas.