segunda-feira, outubro 17, 2016

“DARIO FO, O SUMO JOGRAL”

O grande actor e dramaturgo Dario Fo

Milão, Piazza Duomo: funeral de Dári Fo: "milhares de pessoas para o último aplauso"

Dario Fo sempre captou o meu interesse e grande simpatia pela originalidade do seu humor, do seu talento, da sua coragem de dizer o que pensava sem jamais cair na bajulação. 

A mim ensinou a nunca ser cortesão, a divertir-me quando críticos e nunca me tomar a sério” – testemunho do escritor Roberto Saviano.
"Foi constante o empenho político de Fo em todas as suas produções. O teatro, para ele, não podia ser senão o espelho da sociedade". - Marica Stocchi
E neste aspecto, a sua objectividade não alterava a imagem, apesar de as suas tendências políticas alinharem na extrema-esquerda.

Não me alongo sobre quem foi Dario Fo, pois os nossos jornais publicaram amplas informações concernentes à morte e vida deste grande actor, escritor, dramaturgo, ilustrador, pintor, Nobel da Literatura em 1997.

No jornal Público, o encenador Jorge Silva Melo informa que “No fundo, ele é um filho da televisão dos anos 50”. Não é exacto. Desde o início da sua carreira, sempre foi conhecido como actor teatral. Só em 1962 Dario Fo e a sua esposa, Franca Rame, conduziram um programa televisivo e, obviamente, a popularidade destes dois actores aumentou.  

“O imponente corpus dramatúrgico, quase uma centena de textos teatrais, valeu-lhe, em 1997, o Nobel da Literatura”Corriere Della Sera, 13/10/2016.
Sendo assim, será adequado estabelecer similitudes com o Nobel da Literatura de 2016? Responda quem é competente nesta matéria.
Curiosa coincidência, todavia, sobre a data 13 de Outubro 2016: atribuição do Nobel da Literatura a Bob Dylon; morte de Dário Fo.

Os títulos da imprensa italiana, anunciando o seu falecimento no passado dia 13, foram quase todos coincidentes no aposto que caracterizava esta popularíssima figura do teatro italiano: “Dario Fo, o sumo jogral”.

Vem então a propósito o que o “Sumo Jogral” dizia:
“Ainda não se compreendeu que é somente no divertimento, na paixão e no riso que se obtém um verdadeiro crescimento cultural”.
“O riso é sacro. Quando um bebé dá a primeira gargalhada é uma festa.

Mas também acrescentava:
O homem sem ideias, como dizia Voltaire, é um imbecil”.
“Em toda a minha vida nunca escrevi nada para divertir e basta. Sempre procurei introduzir, nos meus textos, aquela brecha que é capaz de mandar em crise as certezas”.

Aquando do banimento das suas obras na Turquia - “porque não encarnam o espírito nacional turco” - numa entrevista em que as perguntas incidiam mais sobre o facto de ser posto fora da lei conjuntamente a Shakespeare, Cechov, Bertold Brecht e similares, as respostas caracterizam Dario Fo:
É belíssimo! Mas que honra! Parece-me, todavia, que na Turquia se esqueceram de alguém igualmente importante. Na lista dos rejeitados faltam os antigos Gregos e, talvez, alguém da Comédia da Arte. Só assim o elenco estaria completo.”
“Acomunado a estes grandes, admito que me dá um grande prazer. Sinto-me como se me tivessem dado um outro prémio Nobel”.
 
O funeral de Dario Fo realizou-se sábado passado. O cortejo partiu do Teatro Strehler para a Praça Duomo (Praça da Catedral) onde se efectuou o funeral laico. Fo era ateu, mas alimentava dúvidas.
Um sacerdote do Duomo quis negar o espaço Sagrado para o funeral. Uma reunião com a Câmara Municipal de Milão e a promessa que, no Sagrado, apenas estariam o féretro e os familiares, esvaeceram o problema. 


 A Praça encheu-se de milhares de pessoas que quiseram assistir ao último adeus a Dário Fo, embora a chuva fosse persistente. Uma homenagem de Milão merecida. Dizem que não será a última. É credível.